A cozinha autêntica brasileira não tem nada de exótica e saber o que comiam os índios ou os nossos tataravós é conhecer nossa própria cultura.
Maria do Céu começou a cozinhar aos nove anos, em Manaus.
Nas ceias de Natal, comia tartaruga nas mais variadas versões, porque ali não existia peru, que foi experimentar quando adulta. "Manaus é isolada. Cozinhávamos apenas com os produtos locais, não existia cenoura, couve-flor, alcachofra... Só tive contato com eles na abertura da Zona Franca de Manaus, na década de 60", diz. Depois que o marido morreu, e os dois filhos saíram de casa, Maria passou a se dedicar ao hobby de que sempre gostou: panelas e sabores. Não só leu os poucos livros históricos que falavam da culinária indígena como também passou temporadas em algumas aldeias e observando ribeirinhos. Segundo o escritor Milton Hatoum, "todos os peixes da Amazônia esperam uma receita de Maria do Céu". Ele é fã de seus pratos. Na Amazônia, a base da gastronomia é praticamente só indígena, teve pouca influência portuguesa. E pouco se sabe sobre ela no restante do país. A cozinheira, que é diretora do Centro de Gastronomia da Amazônia, esteve em São Paulo para um festival no restaurante
Obá.
O prato que serve e considera mais característico de sua terra é o tambaqui no tucupi. "O índios descobriram que colocar o peixe no tucupi aumentava sua vida útil em um ciclo lunar, ou oito dias", afirma. Tucupi é um tempero amarelo extraído da mandioca brava. Depois da descoberta, ele vai com tudo: peixe, pato ou porco.
O festival também trouxe picadinho de aruanã (confira a receita abaixo) – outrora depreciado, hoje este peixe de carne branca e macia desponta como grande estrela nas mesas amazônicas.
LAURA LOPES