
Quando deflagrou a operação Caixa de Pandora no dia 27 de novembro de2009, uma amiga minha me ligou às 7h da manhã para me avisar. Eu estava em Uberlândia-Mg, depois de ter me submetido a uma cirurgia na mão. Naquele momento ela não tinha ainda a dimensão da bomba que estava iniciando a explodir no governo José Roberto Arruda, mas, em se tratando de uma jornalista muito astuta ela já tinha a ideia do tamanho do estrago iniciado com a Operação.
No meio da tarde do mesmo dia ela me ligou me relatando as buscas e apreensões feitas pela Polícia Federal na Residência Oficial do Governador e em casas e escritórios de assessores ligados ao Arruda. Naquele momento eu já tinha informações sobre a Operação “salve a internet” lida nos diversos sites jornalísticos, principalmente, o G1. Que por sinal vem fazendo um excelente trabalho. Com seriedade e isenção. Fiquei estarrecido com os acontecimentos, mas não surpreso. Chocado digamos assim. Quem conhece bem o histórico do Arruda não se espanta com tais fatos. Se choca. No dia seguinte à Operação Caixa de Pandora, um amigo me liga para me perguntar o que eu pensava sobre tudo isso. Depois deconversar com ele alguns minutos, disse: Você se lembra do que aconteceu no dia 6 de Agosto de 1945? Ele pensou, e meio perdido com a pergunta eu antecipei a resposta: A primeira bomba atômica explodiu em Hiroshima. E isso é o que aconteceu na política de Brasília. Uma Hiroshima no governo Arruda! Ele ficou mudo por alguns segundos e me perguntou: E agora João? Respondi: Aguarde que a Nagasaki vai chegar.
E, hoje, eu digo que depois dos últimos acontecimentos, onde se vimos testemunha sendo subornada, arapongas sendo presos e Procurador Geral da Republica se reunindo com o Ministro do STJ para discutir um caminho para o afastamento do quase Imortal Arruda, posso dizer com todas as palavras: Nagasaki chegou! É incrível, que um homem público que foi Deputado Federal e que chegou a Líder do Governo FHC no Senado, ainda pense que pode governar sozinho, sem Partido, sem o mínimo respaldo da opinião pública, sem qualquer credibilidade. Lembra, aliás, outro insano, o ex-Presidente Collor. A saída de Arruda do Governo não é desejável, ela é inevitável, tal o grau de decomposição de sua imagem e de sua autoridade. Sua teimosia em permanecer no cargo resultará num sangramento cada vez maior de si mesmo e do conjunto do aparato político nacional, que se vê ridicularizado e vilipendiado nas imagens de corrupção que ele evoca.Hábil manipulador, ele ganha tempo em busca de uma saída, mas a única saída possível é a saída dele da vida pública abrindo espaço, aliás,para uma renovação mais sadia das lideranças da cidade nas eleições de2010. O tempo esgotou-se para ele que, para consolo, bem poderia encomendar a alguma locadora o filme “ FROSTxNIXON”, uma reedição da famosa entrevista de um desconhecido apresentador de talk-shows, DaveFrost, ao Ex-Presidente Nixon, em 1977, logo após sua renúncia,seguida de anistia. O que parecia uma “piece of cake” para Nixon, que lhe renderia a bagatela de US$ 500.000,00 e uma oportunidade para seu resgate à política, transformou-se no seu túmulo, até sua morte em1994. O novato Frost o coloca a knockout no ultimo bloco, levando-o ao desespero e à tão esperada confissão:
- “Eu decepcionei o povo americano. Eu cometi horrores no Governo !” Resta apenas saber se algum “Frost” nacional também estaria disposto a entrevistar Arruda, após sua saída do Governo e, nesse caso, quanto oEx-Governador todo poderoso cobraria... Mas bom mesmo seria se ele, circunspecto e arrependido, em vez de prolongar a agonia, que ainda pode produzir vítimas inocentes em meio à manifestações de protesto,assumisse com maior elegância sua própria tragédia e dissesse,simplesmente, no rastro de um dos mais belos poemas de Anderson Braga Horta, nosso poeta maior na Capital : - Errei. Decepcionei o povo de Brasília.“E vou, retórico e despido, a caminho de mim...” Mas até para um ato destes se exige dignidade, o que parece que ele não tem.
JOÃO CARLOS BERTOLUCCI – JORNALISTA – NASCIDO EM BRASÍLIA E INDIGNADO COM ESSA “CARA”