sábado, 9 de janeiro de 2010

DE OLHO NAS ARARAS AZUIS

Projeto patrocinado pela Fundação Toyota do Brasil monitora cerca de 3 mil araras-azuis no Pantanal de Mato Grosso do Sul
Vinte anos atrás, cerca de 30 araras-azuis repousavam em altos galhos de uma árvore seca, em pleno Pantanal. No chão, a bióloga Neiva Guedes as observava pela primeira vez. "Eu estava num curso de conservação. O professor me disse que elas estavam ameaçadas de extinção, e não consegui mais parar de pensar nelas, tão lindas. Foi amor à primeira vista", conta. Ali, naquela ocasião, Neiva decidiu que seria essa a espécie que ela defenderia pelo resto da vida. Então, um ano depois, fundou em Campo Grande, MS, o Projeto Arara Azul e passou a procurar ninhos e a estudar os hábitos das aves. Na época, havia entre 2,5 mil e 3 mil araras-azuis livres no Pantanal. Hoje, graças à ajuda de voluntários e ao apoio de instituições estaduais e da Fundação Toyota do Brasil, que forneceu picapes para pesquisas de campo e financiou a construção de um centro de sustentabilidade na capital do estado, há cerca de 6,5 mil, segundo contagem recente.
"Infelizmente, ainda há mais araras--azuis em cativeiro do que na natureza", lamenta a bióloga. O número de indivíduos na natureza caiu por três motivos:
o comércio de animais silvestres; o desmatamento nas bordas do bioma, que reduziu a oferta da acuri e da bocaiúva, árvores das quais se alimenta, e do manduvi, em que 90% deles fazem os ninhos; e a baixa taxa de reprodução da espécie. Neiva explica que a fêmea leva oito anos até botar o primeiro ovo.
Em média, a arara-azul põe dois ovos por ciclo reprodutivo, mas geralmente apenas um eclode. Dos filhotes, 30% são predados por aves, como tucanos e corujas. E a cada cem nascidos, apenas quatro são efetivamente inseridos na natureza, onde reproduzem. A arara-azul mede um metro de comprimento, do bico à ponta da cauda. É a maior entre as espécies de araras. Mas são presas fáceis, justamente por serem grandes e passarem o dia voando próximo aos ninhos, atraindo predadores. Outra fragilidade da espécie é que até os 18 meses os filhotes ficam nos ninhos, expostos à rapina dos predadores.
Os pesquisadores do Projeto Arara Azul saem todos os dias atrás dos ninhos, que ficam a oito metros de altura, dentro de troncos de manduvi. Para isso, usam técnicas de rapel. Há 606 ninhos mapeados na região de Aquidauana e Miranda, onde o projeto tem bases para estudo em campo. Se encontram um ninho com a abertura grande, facilitando a entrada de predadores, eles colocam tábuas e o fecham um pouco. Se pequeno, abrem mais a cavidade.
Quando necessário, a equipe instala ninhos artificiais. "As araras-azuis são fiéis ao local de reprodução e, para isso, disputam o espaço com outras aves, como patos-do-mato e outras araras", diz a pesquisadora.