segunda-feira, 5 de julho de 2010

Metade das mulheres com diabetes gestacional desenvolve a doença de forma definitiva alguns anos depois




Acúmulo de gordura antes da 28ª semana de gestação é um sinal de atenção para o risco de diabetes
Filhos de mulheres que tiveram diabetes durante a gravidez têm risco até cinco vezes maior de desenvolver a doença na idade adulta. Além disso, metade das mulheres que apresenta diabetes gestacional terá a doença de forma definitiva cerca de cinco anos após a maternidade.
As informações foram divulgadas por especialistas no Diabetes Summit for Latin America, conferência da Fundação Mundial de Diabetes (World Diabetes Foundation – WDF) que termina nesta sexta-feira (2), em Salvador (BA).
De acordo com pesquisas feitas na década de 1980, cerca de 7% das gestantes brasileiras com 20 anos ou mais desenvolvem diabetes durante a gravidez.
A questão é que os critérios para definir a doença têm mudado, o que faz com que as estimativas sejam bem mais altas hoje em dia. “O índice pode ser superior a 10%”, informa o médio epidemiologista Bruce Duncan, professor adjunto da Universidade da Carolina do Norte e também membro do corpo docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Além disso, o sedentarismo e a alimentação inadequada têm colaborado para o aumento do diabetes de uma forma geral.
“O diabetes gestacional era uma doença rara, tratada sempre com insulina. Agora, sabemos se trata de um problema mais comum, que muitas vezes pode ser administrado somente com dieta e atividade física na gravidez”, relata.
Fatores de risco
As alterações no metabolismo e na produção de hormônios durante a gestação - mecanismos naturais de proteção ao feto, podem prejudicar a ação da insulina, hormônio que metaboliza o açúcar no sangue. Por isso, se a mulher já tiver alguma predisposição, pode desenvolver diabetes, em geral nos meses finais da gravidez.
Ação da insulina no organismo
“A maioria volta ao normal logo após o parto, mas uma parte continuará com a doença”, explica a médica Maria Inês Schmidt, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ela é a pesquisadora que coordenou o maior estudo sobre o tema já feito no Brasil, na década de 1990.
De olho na cintura
A médica explica que o acúmulo de gordura antes da 28ª semana de gestação (quando o útero “sobe” e a gravidez torna-se visível) é um sinal de atenção para o risco de diabetes. Principalmente se essa gordura estiver concentrada na região abdominal.
Mulheres com histórico familiar e as que engravidam após os 35 anos também devem ficar mais atentas. O exame de glicemia de jejum deve ser feito logo no início da gravidez para diagnosticar uma eventual elevação na taxa de açúcar. Schmidt afirma que na gravidez a taxa não deve ser superior a 85 mg por dL (fora da gestação o índice máximo é de 100 ou 110 mg por dL). Outros exames também podem ser solicitados, como o de tolerância à glicose.
Além de aumentar a predisposição do bebê a ter a doença no futuro, o diabetes gestacional eleva as chances de gerar crianças com peso alto (acima de 4 kg), o que traz riscos para ambos durante o parto e faz com que o filho tenha dificuldades para vencer a obesidade ao longo da vida.
A saída para evitar todos esses problemas é cuidar bem da alimentação e não descuidar da atividade física durante a gravidez. "O mito de que a grávida deve comer por dois ainda existe, o que coloca muitas mulheres em risco", comenta a médica.
“Se a mulher estiver acima do peso, é interessante pensar em emagrecer antes de engravidar”, recomenda, ainda, a especialista. Além disso, Shcmidt ressalta que é importante que as mulheres que tiveram diabetes gestacional sejam monitoradas também após a gravidez, para evitar o aparecimento da doença nos anos seguintes à maternidade.
Por Tatiana Pronin