Estudos indicam que o uso de antidepressivos diminui a recorrência de pensamento negativos e melhora a sociabilidade
Você gostaria de mudar seu temperamento? Cerca de 70% das pessoas seriam diferentes se pudessem escolher, segundo o neuropsiquiatra Diogo Lara, professor da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) e coordenador Coordenador do Ambulatório de Bipolaridade do Hospital São Lucas.
A discussão entre psiquiatras, neurologistas e psicólogos é se o uso de remédios para isto é aconselhado. Este foi o primeiro tema do 6° Congresso Brasileiro de Cérebro Comportamento e Emoções, que acontece de 10 a 12 de junho em Gramado (RS).
Pesquisadores não chegam a uma conclusão sobre o que é de fato a personalidade e nem se o uso de remédios seria indicado ou não para alterar uma característica de temperamento que a pessoa não gosta. Para Lara, o "sadomasoquismo social" deve ser evitado. “Fala-se muito que exercício físico melhora o humor, mas ninguém fala que isto estaria alterando a personalidade do indivíduo. Terapia também ajuda nesta questão e alguém fala que faz mal? Mas usar medicação ainda não é aceitável”, pondera.
É fato que os remédios interferem no sistema de captação da serotonina no cérebro e alteram humor e as emoções. “Estudos sobre o assunto são antigos. Em uma pesquisa de 2009 com 2.300 voluntários (sendo 150 saudáveis para controle), 30% das pessoas sem problemas psiquiátricos apresentaram mudança na ocorrência de pensamentos negativos (como raiva, irritação, tristeza etc.) com o uso de antidepressivos”, explica o responsável pelo estudo, Valentim Gentil, chefe do departamento de psiquiatria da USP.
Na pesquisa, era alternado o uso de placebo e remédio em 12 semanas, 4 com medicação, 4 com placebo e 4 com medicação. No uso de placebo não houve melhora no humor. O que prova que o medicamento é que produziu as alterações e também que seu efeito só é sentido durante seu uso.
Antônio Peregrino, neuropsiquiatra da Universidade de Pernambuco, diz que estudos comprovam que o uso de antidepressivos melhora dois aspectos principais: pensamento negativos (como a sensação de que as coisas vão dar errado) e sociabilidade. “Em pesquisa de 1998, 40% do grupo placebo obteve melhora na depressão, mas em relação aos pensamentos negativos não houve melhora”.
Assim, o chamado bom humor, em muitos casos, é efeito do remédio e poderia fazer a pessoa “ser uma pessoa que ela não é”. Alguns pacientes reclamam que não gostaram de estar menos irritados e mais tolerantes, porque esta não é uma característica de sua personalidade. Este seria um traço artificial.
Mas para a Dóris Moreno, doutora em psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, é preciso separar o que é um sintoma recorrente da personalidade. “O paciente passa a avaliar a vida de outra maneira. Muitos dizem que voltaram a ser como na adolescência, mais leves. Por que não pensar que eles voltaram ao seu 'real ser'? Quanto mais tempo o paciente está doente, menos ele se lembra de como ele era. Ele passa a atribuir isso como seu jeito de ser”.
A personalidade, de acordo com com a psiquiatra, seria a essência do ser. Algo que permanece com o passar dos anos e não características de humor. Apesar disto, ela concorda que alguns antidepressivos podem gerar uma “anestesia afetiva”. “Mas nestes casos, já temos inibidores seletivos da serotonina. Antigamente os remédios engordavam, agora já podem agir só no que incomoda o paciente”, lembra.
Apesar disto, Moreno destaca que cabe aos médicos perceber o que é sintoma e o que é personalidade já que o paciente confunde-se. “Nosso dever é deixar o paciente 100% livre destes sintomas como mau humor e irritação constante”, afirma.
Para Peregrino a personalidade é separada em duas vertentes o temperamento, que seria algo genético, e o caráter, que é ligado ao meio.
“É uma visão arbitrária separar personalidade, humor e comportamento como se a base fosse diferente. O neurônio não separa as informações. Uma das grandes qualidades do cérebro é q tudo é integrado e é isto que faz com sejamos um só. Seria ingênuo pensar que o remédio não mexe na personalidade,” ressalta Lara que concorda que remédios devem ser usados por pessoas que querem mudar seu temperamento.
A discussão entre psiquiatras, neurologistas e psicólogos é se o uso de remédios para isto é aconselhado. Este foi o primeiro tema do 6° Congresso Brasileiro de Cérebro Comportamento e Emoções, que acontece de 10 a 12 de junho em Gramado (RS).
Pesquisadores não chegam a uma conclusão sobre o que é de fato a personalidade e nem se o uso de remédios seria indicado ou não para alterar uma característica de temperamento que a pessoa não gosta. Para Lara, o "sadomasoquismo social" deve ser evitado. “Fala-se muito que exercício físico melhora o humor, mas ninguém fala que isto estaria alterando a personalidade do indivíduo. Terapia também ajuda nesta questão e alguém fala que faz mal? Mas usar medicação ainda não é aceitável”, pondera.
É fato que os remédios interferem no sistema de captação da serotonina no cérebro e alteram humor e as emoções. “Estudos sobre o assunto são antigos. Em uma pesquisa de 2009 com 2.300 voluntários (sendo 150 saudáveis para controle), 30% das pessoas sem problemas psiquiátricos apresentaram mudança na ocorrência de pensamentos negativos (como raiva, irritação, tristeza etc.) com o uso de antidepressivos”, explica o responsável pelo estudo, Valentim Gentil, chefe do departamento de psiquiatria da USP.
Na pesquisa, era alternado o uso de placebo e remédio em 12 semanas, 4 com medicação, 4 com placebo e 4 com medicação. No uso de placebo não houve melhora no humor. O que prova que o medicamento é que produziu as alterações e também que seu efeito só é sentido durante seu uso.
Antônio Peregrino, neuropsiquiatra da Universidade de Pernambuco, diz que estudos comprovam que o uso de antidepressivos melhora dois aspectos principais: pensamento negativos (como a sensação de que as coisas vão dar errado) e sociabilidade. “Em pesquisa de 1998, 40% do grupo placebo obteve melhora na depressão, mas em relação aos pensamentos negativos não houve melhora”.
Assim, o chamado bom humor, em muitos casos, é efeito do remédio e poderia fazer a pessoa “ser uma pessoa que ela não é”. Alguns pacientes reclamam que não gostaram de estar menos irritados e mais tolerantes, porque esta não é uma característica de sua personalidade. Este seria um traço artificial.
Mas para a Dóris Moreno, doutora em psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, é preciso separar o que é um sintoma recorrente da personalidade. “O paciente passa a avaliar a vida de outra maneira. Muitos dizem que voltaram a ser como na adolescência, mais leves. Por que não pensar que eles voltaram ao seu 'real ser'? Quanto mais tempo o paciente está doente, menos ele se lembra de como ele era. Ele passa a atribuir isso como seu jeito de ser”.
A personalidade, de acordo com com a psiquiatra, seria a essência do ser. Algo que permanece com o passar dos anos e não características de humor. Apesar disto, ela concorda que alguns antidepressivos podem gerar uma “anestesia afetiva”. “Mas nestes casos, já temos inibidores seletivos da serotonina. Antigamente os remédios engordavam, agora já podem agir só no que incomoda o paciente”, lembra.
Apesar disto, Moreno destaca que cabe aos médicos perceber o que é sintoma e o que é personalidade já que o paciente confunde-se. “Nosso dever é deixar o paciente 100% livre destes sintomas como mau humor e irritação constante”, afirma.
Para Peregrino a personalidade é separada em duas vertentes o temperamento, que seria algo genético, e o caráter, que é ligado ao meio.
“É uma visão arbitrária separar personalidade, humor e comportamento como se a base fosse diferente. O neurônio não separa as informações. Uma das grandes qualidades do cérebro é q tudo é integrado e é isto que faz com sejamos um só. Seria ingênuo pensar que o remédio não mexe na personalidade,” ressalta Lara que concorda que remédios devem ser usados por pessoas que querem mudar seu temperamento.
Lilian Ferreira*De Gramado