sexta-feira, 24 de maio de 2013

Indicado para o STF terá poder de rever mensalão petista e vai relatar caso tucano

 
 
Indicado ontem pela presidente Dilma Rousseff para o Supremo Tribunal Federal, o advogado Luís Roberto Barroso, de 55 anos, poderá mudar os rumos do julgamento do mensalão petista e será o responsável por relatar a ação penal do mensalão mineiro.
Especialista em Direito Constitucional, Barroso terá de julgar os recursos dos 25 condenados do mensalão. Os votos de Barroso e de Teori Zavascki, que também não participou do julgamento, podem acarretar redução de penas, absolvição de parte das acusações ou permissão para que 11 dos condenados sejam julgados novamente.
Na disputa pela vaga, Barroso contou com o apoio do secretário executivo da Casa Civil, Beto Vasconcelos, e do advogado Sigmaringa Seixas, amigo íntimo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou do processo de indicação.
Advogados que defenderam réus do mensalão demonstraram confiança no ministro. Um deles disse confiar que o perfil técnico de Barroso servirá para corrigir "erros" do STF na condenação de parte dos réus por crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
 
Festa em Salvador
Na noite de ontem, Luís Roberto Barroso foi recebido com entusiasmo no hotel em que ficará hospedado até amanhã, em Salvador, onde participa do 13.º Congresso Brasileiro de Direito do Estado. No lobby do hotel, recebeu vários cumprimentos de colegas. "Não acho próprio fazer comentários ou dar declarações antes da submissão do meu nome ao Senado. Esta é a próxima etapa - e vou me preparar para ela", disse a jornalistas.
Barroso contou que recebeu a indicação ontem de manhã, em reunião com a presidente Dilma e o ministro da Justiça. "Fiquei muito feliz e muito honrado com a indicação, naturalmente, e com a perspectiva de servir ao País. Coisas assim sempre surpreendem a gente."
 
Futuro
Se o voto do futuro ministro eventualmente beneficiar réus do mensalão petista, a posição dele pode servir de padrão no caso mineiro. O ex-governador de Minas e ex-presidente do PSDB Eduardo Azeredo, assim como os réus petistas, foi denunciado pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro.
Mesmo reservadamente, Barroso não fazia comentários sobre o julgamento do mensalão, até porque era cotado para a vaga e sabia que, se indicado, teria de julgar os recursos dos réus.
Concedeu entrevistas defendendo o STF das acusações de que teria condenado os réus do mensalão em razão de pressão da sociedade. Mas disse que o tribunal contrariou precedentes e endureceu sua postura no julgamento sobre processos penais no caso do mensalão. Avaliava ainda que a condenação dos réus significava também a condenação do modelo político brasileiro em que, de acordo com ele, a sociedade não se sente representada por partidos.
 
Progressista
Barroso participou de grandes julgamentos do STF nos últimos anos. Defendeu as pesquisas com células-tronco embrionárias, a união estável entre pessoas do mesmo sexo e a interrupção da gravidez no caso de anencefalia. Atuou a favor da permanência, no Brasil, do ex-ativista italiano Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua por quatro assassinatos.
 
Cotado desde o governo FHC 
No ano passado, Luís Roberto Barroso passou pelos momentos mais delicados de sua vida. Ouviu de um médico que teria poucas semanas de vida em razão de um câncer no esôfago. Aos 55 anos, submeteu-se a um tratamento médico intenso em São Paulo. Consultou-se com o médium João de Deus, em Goiás. Hoje está curado.
O nome de Barroso era cotado para o Supremo desde a gestão Fernando Henrique Cardoso. No governo Lula, foi preterido. Na gestão Dilma, tinha um forte cabo eleitoral, o secretário executivo da Casa Civil, Beto Vasconcelos. Dizia que nunca pediria para ser indicado, mas deixava claro que se fosse convidado, aceitaria sem sombra de dúvidas. Recentemente, foi convidado pelo ministro José Eduardo Cardozo para integrar uma comissão da Secretaria de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça, pavimentando o caminho de sua indicação.
Mudou-se do Rio para Brasília com a família - a mulher e dois filhos - depois de um assalto à sua casa há oito anos.
Na internet, mantém um blog em que expõe opiniões sobre assuntos jurídicos, poesia e música. Agora mudará da advocacia para a magistratura. No Supremo, terá um dos maiores estoques de processo da Corte - serão 7.841 processos, incluindo o do mensalão mineiro.
 
O 'estilo' Dilma de despistar 
A escolha da presidente Dilma Rousseff para a vaga do STF foi marcada por idas e vindas e escancarou o seu estilo. Depois de muitas dúvidas, a indicação de Luís Roberto Barroso passou pelo crivo do ex-presidente Lula, que ontem tomou café da manhã com ela, no Palácio da Alvorada, e pôs fim a uma novela que se arrastava há seis meses.
No início de abril, Dilma havia optado por outro nome para a cadeira de Carlos Ayres Britto. Tratava-se do tributarista Heleno Torres, professor da USP que tinha o apoio de Ricardo Lewandowski, revisor do mensalão, e do advogado-geral da União, Luiz Inácio Addams. Mas o "vazamento" do encontro que ela teve com Torres e com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), em 4 de abril, deixou-a furiosa. A partir daí, Torres caiu em desgraça.
A presidente começou nova procura. Entraram na lista Luiz Edson Fachin e Eugênio Aragão. Paranaense, Fachin contava com a simpatia da chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, mas foi vetado por alas petistas. Dilma promoveu sabatinas com alguns dos indicados. Pouco antes do anúncio de Barroso, autoridades do Judiciário chegaram a ser informadas por integrantes do governo sobre a escolha de Fachin. É o estilo Dilma de despistar
 
 - Do Estadão