A presidente Dilma Rousseff chegou nesta segunda-feira (30) a Havana para sua primeira visita a Cuba depois de assumir o cargo. Ex-presa política, torturada pelo regime militar brasileiro, Dilma inevitavelmente enfrentará questionamentos por conta do relacionamento de seu governo com a ditadura cubana, acusada de diversas violações de direitos humanos. Como o Filtro mostrou na semana passada, o que deve prevalecer é o pragmatismo na diplomacia brasileira e, assim, as relações econômicas com Cuba vão prevalecer diante dos direitos humanos, mais ou menos como fazem quase todos os países do mundo. Desde 2010, o governo de Raúl Castro vem realizando uma abertura econômica e o Brasil, segundo maior parceiro comercial de Cuba, vê nesse processo uma oportunidade que não pode ser perdida. De particular importância para o Brasil é o porto de Mariel, no norte da ilha, que está sendo erguido pela construtora Odebrecht e cujo financiamento é bancado quase que na totalidade pelo Brasil. Em uma aparente tentativa de afastar questionamentos sobre cobranças por parte do Brasil com relação aos direitos humanos em Cuba, os dois governos frisam que a visita tem cunho econômico. Segundo a agência Ansa, o Ministério das Relações Exteriores de Cuba afirmou que a visita de Dilma é uma “oportunidade para aprofundar o crescente diálogo e cooperação no relacionamento bilateral, com ênfase na agenda econômica“. A Agência Brasil, estatal, destaca a importância do porto de Mariel, considerado a principal obra do governo Raúl Castro. A ampliação do porto é considerada pelas autoridades cubanas um projeto estratégico para o aumento do intercâmbio comercial de Cuba. O Brasil financia 80% das obras em um total de US$ 683 milhões. Os cubanos planejam transformar a região portuária de Mariel em um centro industrial. Um dos projetos é a construção de uma indústria de vidros na área. Uma vez completo e em funcionamento total, o que deve ocorrer apenas em 2022, o porto de Mariel será o principal elemento de uma Zona Especial de Desenvolvimento Econômico que pode ajudar Cuba a deixar sua atual lastimável situação econômica, especialmente se, em algum momento, os Estados Unidos reverterem o criticado embargo a Cuba vigente desde os anos 1960. Para o Brasil, o porto é de especial interesse pois poderia se tornar, por exemplo, plataforma intermediária de exportação para o petróleo do Brasil, que até 2022 já deverá estar exportando o óleo do pré-sal. É daí que emana o pragmatismo do Brasil com relação a Cuba, em detrimento dos direitos humanos dos dissidentes cubanos.
Por José Antonio Lima – Do Época