A combinação de tecnologia barata com evolução da utilidade, capacidade e usabilidade dos aplicativos na nuvem deverá definir a nova onda tecnológica, hoje centrada no hardware e na batalha de sistemas operacionais móveis. As condições para uma nova explosão cambriana hi-tech vão ocorrer quando a base de smartphones e tablets atingir massa crítica suficiente, os equipamentos se tornarem commodities novamente e a infraestrutura tiver acompanhado a demanda.
É questão de (pouco) tempo até os aparelhos móveis se converterem mais em meio do que no objeto final de desejo. Mesmo no caso dos ícones geeks, como iPhones e iPads. A cada atualização, esses modelos ganham mais velocidade, memória e acessórios. Mas, em um período curto, talvez dois ou três anos, o hardware terá sua força de marketing diminuída. E um processador novo, uma tela mais nítida, uma câmera mais potente não deverá justificar um auê tão grande quanto o gerado a cada número acrescentado aos gadgets da Apple hoje em dia. Isso porque os concorrentes tendem a nivelar as qualidades dos produtos – tanto em capacidade quanto em design – e, por tabela, popularizar equipamentos topes.
Por outro lado, a computação em nuvem ainda é um conceito em consolidação. Mas reúne potencial para ser o principal agente de mudança de hábitos em um futuro próximo. O cloud tem o poder de expandir a capacidade e a usabilidade dos aplicativos para muito além do que conseguem fazer hoje. Para isso, no entanto, a infraestrutura também precisa caminhar a passos largos rumo a maiores velocidades de acesso, preços menores e avanços significativos na inclusão digital. O wireless gratuito ou a custo muito baixo, por exemplo, deveria se espalhar cada vez mais.
O acesso sem fio ainda é caro. Mas há avanços e tecnologias que jogam a favor da mobilidade. Por exemplo, quem tem plano de dados 3G só precisa transformar seu smartphone em hotspot wi-fi (função presente nas versões mais novas do Android e do iOS) para acessar a internet, mesmo que seu tablet ou notebook não tenha acesso nativo à rede móvel celular. Ou seja, hoje qualquer equipamento com wi-fi pode usar a internet por meio de um celular, que se comporta como um ponto de acesso comum.
Nesse mundo mais móvel e conectado dos próximos anos, as empresas de serviço deverão ganhar mesmo com assinaturas ou modelos freemium. O software como serviço é só o começo. Necessidades mais prosaicas vão ser atendidas em um próximo passo. Por exemplo, um clube de livros e revistas que permita ao usuário acessar pela nuvem obras e periódicos que quiser por um tempo determinado. Sem precisar baixá-los ou comprá-los. Ou ouvir músicas sob demanda por streaming, sem ter de fazer download ou guardar arquivos no computador (imagine só: você entra no serviço, monta seu playlist ou cria uma espécie de rádio digital apenas com as suas músicas preferidas na hora). Pode também acessar conteúdo de seu próprio computador, como se você estivesse operando a máquina em casa. Tudo via nuvem.
Aplicativos de pesquisa ligados full time, com cruzamento de dados por localização GPS e identificação de imagens, vão permitir a obtenção instantânea de informações virtualmente de qualquer coisa. Por exemplo, você está na rua bate a vontade de comer um pastel. Busque a palavra e você terá uma lista georreferenciada de lugares próximos, com ranking dos melhores produtos elaborado a partir de opiniões de consumidores. Terá também cupons instantâneos com descontos sobre os quitutes. Poderá até escolher os sabores, efetuar o pedido e pagar antes mesmo de chegar ao local. E até convidar algum amigo eventualmente por perto.
Os superaplicativos na nuvem vão permitir receber em tempo real qualquer informação desejada sobre tudo à sua volta (por exemplo, quer identificar quais empresas estão localizadas no prédio em frente? Basta apontar a câmera; ou saber qual a importância histórica da construção; ou ainda, se estiver em um supermercado, terá na hora informações como se o produto que quer levar está com o melhor preço possível, quanto vai ganhar ou perder se fizer sua compra ali ou no estabelecimento x metros adiante).
Se a pessoa deixar programada as preferências, funções pró-ativas poderão sugerir restaurantes próximos com promoções na hora do almoço, ou convidar um amigo que esteja perto de onde você está. E até mesmo efetuar compras automaticamente, sem você precisar se preocupar com isso, de itens que necessite, com opção de entregar em casa em horários determinados ou buscar no local.
Em termos de equipamentos, deixo algumas pensatas de como poderiam ser para melhor performance nesse ambiente de fluxo constante de informação: o fone de ouvido, por exemplo, poderia incorporar uma câmera auxiliar que ajudaria na identificação de objetos, lugares, códigos de barra e até pessoas. Talvez o smartphone pudesse também se dividir em duas partes distintas: uma simples tela touch flexível e ultrafina (se pudesse ser dobrada seria um sonho de consumo); e deixar as funções de processamento em um módulo separado (poderia ser um pequeno cubo, uma peça semelhante a um pen drive, ou mesmo um aparelho bem menor, mais resistente e com bateria de maior capacidade; eventualmente, poderia manter sua própria touchscreen para uso tradicional). Assim você nem precisa tirar o celular do bolso – ou da bolsa. Poderia mesmo deixá-lo em casa e levar consigo apenas a tela, que acessaria os dados via rede.
Imaginativo demais? Pode ser. Mas houve tempo em que celular era um item de alto luxo. E qualquer pesquisa levava dias para ser feita em bibliotecas. Esse estranho mundo analógico, na verdade, existiu em épocas recentes. Se você tem mais de 20 anos, deve se lembrar, porque ainda era assim no início dos anos 90.
Por Sérgio Tauhata