terça-feira, 9 de agosto de 2011

Produzir energia é um desafio para o agronegócio


Especialistas apontam os principais gargalos da produção energética de baixo custo no Brasil e no mundo durante o 10º Congresso Brasileiro do Agronegócio, em São Paulo

Produzir energias limpas e de baixo custo não é apenas um desafio brasileiro, mas mundial. É o que concluem os especialistas presentes no 10º Congresso Brasileiro do Agronegócio, realizado pela Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), nesta segunda-feira (8/8), em São Paulo (SP). Vários fatores foram indicados como obstáculos para um desenvolvimento mais dinâmico e efetivo do setor, como a disparidade entre oferta e demanda e a falta de investimentos em novas áreas plantadas com cana-de-açúcar. Mas a ausência de políticas públicas mais transparentes e direcionadas aos setores produtivos de etanol e biodiesel foi apontada como o principal problema.

Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura e palestrante do painel “Novos paradigmas para a energia” afirmou que o cenário vivido hoje, inédito no Brasil, é consequência direta das políticas econômicas adotadas anos atrás pelo governo, como o congelamento dos preços dos combustíveis. “Não aconteceu somente no Brasil. Testemunhamos a mesma política na Argentina, na Venezuela. No entanto, isso [política de congelamento dos preços] provoca distorçõesgraves na economia. É o resultado que estamos tendo hoje”, diz. “Vivemos um novo cenário e não há mais opções de produzirmos energia com custo baixo”. Segundo ele, a era da energia barata definitivamente chegou ao fim.

Pires afirma que o resultado mais grave desta política se refletiu no fato de o Brasil passar de exportador para importador de combustíveis, tanto de gasolina como de etanol. “A atual crise no setor de etanol, que provocou esta enorme disparidade entre oferta e demanda, é um reflexo claro desta situação: o governo congelou os preços da gasolina em 2008, e o etanol, que é um produto sujeito às intempéries climáticas, perdeu a chance de ser competitivo. Juntando este fato à ausência de investimentos em novas áreas plantadas com cana, o preço subiu, obviamente”.

O executivo diz que, para que o setor tenha fôlego para iniciar um novo ciclo de investimentos, é preciso que o governo apresente políticas públicas mais direcionadas. “O setor de etanol está passando por uma instabilidade, e o governo tem obrigação de saber o que ele quer do etanol, qual será a presença do etanol na matriz de combustível brasileira, qual o papel do bagaço de cana na geração de energia elétrica. Os empresários estão se arriscando e vivendo em um cenário semelhante àquele dos anos 1990”, afirma. Pires também aponta um crescimento de 38% nos custos de produção do etanol nesta safra.

A análise de Adriano Pires é de que este cenário – preços altos, custo de produção elevado – ainda permaneça durante os próximos três ou quatro anos. “Isso se houver investimentos”.´

Energia brasileira

José Goldemberg, especialista em energia, afirma que o setor sucroenergético não pode viver ciclos tão instáveis, caso contrário vai afastar os investimentos e, consequentemente, aumentar cada vez mais os custos de produção. “Instabilidade aponta problemas, riscos, e não há garantias de cumprimento dos contratos”, alerta. Goldemberg defende que o empresário brasileiro deveria ter mais segurança para investir, e esta segurança deveria vir de apoio do governo. Segundo ele, comprovadamente há mercado para o Brasil, e não há, no cenário internacional, outro mercado com tantos compradores em potencial. “Se o Brasil produzisse cinco vezes mais etanol do que hoje, já seríamos um player tão importante quanto a Arábia Saudita é para o petróleo. Para isso, precisaríamos produzir 10% do etanol consumido no mundo, mas hoje ainda estamos em 2%. O governo precisa dar mais atenção ao setor. Deixar o etanol definhar, de novo, é algo que vai custar caríssimo para o Brasil”, diz Goldemberg.

O especialista também enxerga como um problema para o setor a responsabilidade que o usineiro passou a ter para produzir bioeletricidade. “Eu acho que não é o usineiro que tem que produzir bioeletricidade a partir da biomassa. O governo teria que comprar o excedente das usinas de cana para gerar eletricidade e exportar esta eletricidade para a rede, com custo reduzido. Quando o usineiro produz a bioeletricidade, ele tem que investir até em linhas de transmissão, que são caríssimas. Isso seria papel do governo”.

Por Viviane Taguchi