O maior estudo do gênero já feito na América Latina, com ênfase no Brasil, revelou que fumantes e bebedores regulares de álcool têm maiores riscos de câncer na boca, faringe, laringe e esôfago, como já se previa de acordo com dados de outros países.
O resultado mais impactante do estudo foi mostrar que o uso simultâneo de álcool e tabaco teve um efeito multiplicador: 65% dos 2.252 casos de câncer avaliados estavam entre bebedores que também fumavam.
O estudo mostrou que quem bebe ou fuma mais tem maior risco da doença.
Os 25% que beberam menos ao longo da vida (de 0,1 a 233,6 g de etanol por ano, sendo que uma lata de cerveja tem 14 g de etanol), tinham chance 2,26 vezes maior do que os abstêmios de ter câncer de esôfago.
Dos bebedores de álcool, os que consumiam destilados tiveram um risco 12 vezes maior de câncer no esôfago.
Os dados também indicam que quem parar de fumar e beber reduz o risco de ter câncer nessas regiões.
A equipe de doze pesquisadores, dos quais seis brasileiros, foi coordenada pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, com sede em Lyon, França.
Participaram pesquisadores de São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Dos 2.252 pacientes, 1.750 vieram do Brasil, 309 da Argentina e 193 de Cuba. O estudo foi publicado na revista "Cancer Causes Control".
"O câncer é resultado de um processo longo de agressão ao organismo, até que uma célula fique tumoral", diz Sergio Koifman, da Fiocruz (RJ), um dos autores.
Os pesquisadores descartaram outra causa possível de câncer no grupo estudado, o vírus HPV, pelo baixo nível de infecção presente.
Estudo do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, com 26,1 mil pacientes, mostra que 11% dos pacientes de câncer ali atendidos dizem consumir bebidas alcoólicas em excesso.
RICARDO BONALUME NETO