Disponíveis nas lojas virtuais da Apple e Android, aplicativos também podem ser usados por pacientes, mas são necessários cuidados para evitar a automedicação
Quando o médico cardiologista Rodrigo Pedrosa, do Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco, precisa modificar a dose de um medicamento, não recorre mais a fórmulas e calculadoras: em segundos, encontra a dosagem exata no seu telefone celular, por meio de um aplicativo desenvolvido especialmente para médicos nessa situação.
O doutor Pedrosa não é uma excessão. O uso de aplicativos para smartphones como o iPhone e Android no dia a dia de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde é cada vez mais comum nos hospitais brasileiros. No Android Market em português, são mais de 500 aplicativos relacionados com medicina, a maioria gratuita. Na App Store da Apple, é possível encontrar mais de 5 mil aplicativos da área, nas mais diversas línguas. Eles vão desde simples cadernetas de vacinação eletrônica – para acompanhar quais vacinas seus filhos já tomaram, por exemplo – até aplicativos que medem a pressão ou substituem estetoscópios, se comprados junto com equipamento adicional.
O surgimento desses aplicativos não é uma novidade: quando os primeiros computadores de mão entraram no mercado, foram desenvolvidos programas similares para Palms e Pocket PCs. Mas o fenômeno se expandiu com a chegada de smartphones e a popularização do uso da internet por aparelhos celulares e tablets, especialmente o iPad.
Segundo o desenvolvedor e médico Ricardo Maranhão, dono da MedPhone, empresa que desenvolve apenas aplicativos voltados para a área médica, o uso desses programas cresce bastante e já é comum em muitos hospitais. "Os médicos podem usar em suas tarefas diárias, para ajudar no diagnóstico ou tratamento, por exemplo. As pessoas estão usando mais, mas o uso ainda não está totalmente difundindo", diz.
O aplicativo mais popular da MedPhone é o CID-10, que teve mais de 50 mil downloads. O software apresenta os códigos da Classificação Estatística Internacional de Doenças, conhecida como CID-10, permitindo que o profissional encontre a informação rapidamente. Com o ganho de tempo, o médico pode atender melhor seus pacientes. Durante plantões e atendimento de emergência, mesmo um pequeno ganho de tempo pode salvar vidas.
O público alvo da maior parte desses aplicativos são os médicos. No entanto, alguns programas ultrapassam esse nicho e atingem pacientes. É o caso, do Medicamentos de A a Z, aplicativo que está no top3 da Apple nos últimos oito meses, e já teve 200 mil downloads. Segundo Roberto Colnaghi Jr, dono da Touché Mobile, que desenvolveu esse aplicativo, o programa faz parte de uma parceria com uma editora de livros voltados para a área de saúde. "A maior parte dos clientes desses aplicativos é de profissionais de saúde. Mas no caso do Medicamentos de A a Z, nosso palpite é que é mais gente curiosa, que não é da área médica", afirma.
O acesso do grande público a informações sobre medicamentos, na palma da mão, facilita a vida do paciente, mas levanta um temor por parte dos profissionais de saúde: a de que pessoas substituam os médicos pela informação disponível na web, ou nos celulares, e pratiquem a automedicação – a iniciativa do paciente de se medicar, sem a consulta prévia ou acompanhamento de um médico. "É muito bom que as pessoas se informem sobre os problemas de saúde usando meios de informação como a mídia ou a internet. O que não pode acontecer é a pessoa querer interpretar os sintomas e se medicar", diz Jorge Curi, presidente da Associação Paulista de Medicina.
De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o uso indevido de medicamentos é a principal causa de intoxicação ou envenenamento. Em 2009, foram registrados mais de 26 mil casos de intoxicação por medicamentos em todo o Brasil. O número não distingue quais desses casos se referem exclusivamente a automedicação, mas segundo Curi, a prática é frequente no Brasil.
A automedicação pode gerar reações como alergias e outros efeitos coleterais. Também existe o risco do medicamento mascarar os sintomas, atrasando o tratamento adequado, ou tornando infecções mais resistentes, piorando a doença. Em muitos casos, o uso indevido de remédios resulta em danos a órgãos vitais, causando até mesmo a morte.
Mas, se bem utilizados, alguns aplicativos podem ser muito proveitosos para pacientes. É o caso do aplicativo Genéricos, desenvolvido pela Tapush. Segundo Marcos Gurgel, criador do programa, os aplicativos médicos foram, inicialmente, mal interpretados, mas o objetivo deles não é estimular a automedicação, pelo contrário. "O programa não diz o que as pessoas devem tomar, apenas facilita acesso a dados que já são públicos", diz.
O Genéricos relaciona o nome comercial de medicamentos com as fórmulas e princípios ativos, permitindo que pacientes encontrem remédios consideravelmente mais baratos. Segundo o cardiologista Rodrigo Pedrosa, para alguns pacientes essa informação é crucial. "Em algumas situações, informar o preço de uma droga para o paciente é tão importante quanto outras informações sobre o tratamento", diz.
Os desenvolvedores acreditam que a tecnologia veio para ficar, e essa também é a opinião dos médicos. "Hoje em dia, nós temos que usar todos os recursos na profissão. Se existe uma ferramenta para ajudar a tratar melhor o paciente, é importante usar essa tecnologia", diz Pedrosa.
BRUNO CALIXTO