segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Quantos embriões serão necessários para o primeiro teste clínico com células-tronco embrionárias?


A agência federal americana responsável pelo controle de alimentos e questões de saúde (FDA) autorizou anteontem o primeiro teste clínico em seres humanos com células-tronco isoladas a partir de embriões.
Como era de se esperar a repercussão foi imensa. Todos os veículos de comunicação comentaram o assunto. Ontem, o Vaticano condenou o estudo.
Como sabemos, células-tronco embrionárias são isoladas de blastocistos. Embriões que se desenvolveram em laboratório por até 7 dias, após a fertilização de um óvulo por um espermatozóide. Nunca tiveram contato com o útero materno.
Para sua utilização pela ciência, precisam ser formalmente doados por seus genitores. Se não fossem utilizados para a obtenção das células-tronco, seriam descartados.
O que pouca gente sabe é quantos embriões foram utilizados na pesquisa da empresa de biotecnologia Geron que culminou com esse primeiro teste clínico?
A resposta é 1 (UM)!
Sim, isso mesmo leitor(a), somente um embrião (como o da foto acima) foi utilizado nas pesquisas pré-clínicas (com animais) da empresa Geron. E esse mesmo embrião permitirá agora a realização dos testes em seres humanos!
Isso acontece porque as células-embrionárias têm uma capacidade infinita de multiplicação. Células de um único embrião dão origem a bilhões e bilhões de outras células.
Toda a pesquisa da Geron sobre a aplicação de terapia celular no tratamento de paraplegia está baseada numa única linhagem de células-tronco embrionárias, conhecida como H1.
Essa linhagem foi isolada em 1998 pelo pesquisador James Thomson e equipe. Desde então é usada em centenas de estudos biomédicos ao redor do mundo, inclusive em nosso laboratório aqui no Brasil.
A partir das células desse único embrião é que a empresa criou seu produto: GRNOPC1. Células conhecidas como oligodendrócitos que envolvem os neurônios do sistema nervoso central, permitindo a transmissão da informação do cérebro até os músculos. Quando ocorre uma lesão na medula espinal, os oligodendrócitos são destruídos e os movimentos do corpo deixam de acontecer.
Cabe mencionar entretanto que essa não é a única linhagem de células-tronco embrionárias disponível para pesquisa.
Os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), responsáveis pela maior parte do financiamento para a ciência nos Estados Unidos, permitem que seus pesquisadores estudem 75 linhagens diferentes de células-tronco embrionárias, cada uma isolada de um embrião diferente. No mundo todo, há aproximadamente 1.100 linhagens de células-tronco embrionárias disponíveis para a comunidade científica.
Em resumo, a equação um embrião = uma única pesquisa e agora um embrião = teste clínico em um único paciente não existe. Um único embrião permite a realização de centenas de pesquisas. No caso específico desse primeiro teste clínico autorizado nos Estados Unidos, um único embrião deu origem a todos os oligodendrócitos (GRNOPC1) que serão testados em seres humanos. Se funcionarem poderão beneficiar milhares de pessoas. Pense nisso.