terça-feira, 30 de março de 2010

Entre o muro e o paredão


Dia 9 de novembro de 1989, depois de 28 anos de separação, após a segunda guerra mundial, cai, diante de nossos olhos incrédulos, o muro de Berlim. Janeiro de 2000, inicia-se a primeira versão do Big Brother Brasil. O que esses dois acontecimentos têm em comum? Um jornalista, Pedro Bial, que se tornou, para nós brasileiros, a cara desses dois eventos, aparentemente tão antagônicos. À época, com seu texto incomum, ele descreveu, com poesia jornalística, a queda do muro de Berlim, levando os telespectadores a se debruçarem sobre o significado histórico e simbólico daquelas picaretas, que faziam cair por terra um símbolo da opressão e da separação de um conflito que ceifou milhões de vidas durante a segunda guerra mundial. A partir daquele evento, a União Soviética se esfacelou, Cuba virou uma piada e a China tornou-se a mais capitalista de todas as nações. Sem uma nova via, sem uma nova perspectiva, sem um caminho alternativo, o mundo vêm se esbaldando num capitalismo frenético, mesmo ao custo de crises como a de 2008, cujas repercussões ainda sentimos. Nesse novo mundo, o American way of life (modo americano de vida) impera sobre todos os valores e o consumo exacerbado tornou-se a tônica do dia num hedonismo sem precedentes. Ao contrário do que se esperava, a queda da fantasia que representou o “comunismo” soviético não nos arrojou numa realidade histórica mais transcendente, na verdade nos empurrou numa nova fantasia na qual todos querem o que previa o artista plástico Andy Warhol, seus 15 minutos de fama. É nesse contexto que surgiu o reality show Big Brother. Nele vemos pessoas encasteladas na casa do voyerismo, servindo de objeto de consumo para telespectadores famintos de sentido para suas vidas. Como vampiros, cobiçam corpos, desenvolvem fantasias eróticas, tomam partido por desconhecidos, torcem pelo pior, querem ver o circo pegar fogo e como na Roma antiga, usando não apenas o polegar para baixo, e sim todos os dedos, votam no novo gladiador (o “Brother”) que vai sair do circo e receber a grande punição de voltar a ser um ser humano comum, perdendo o status de celebridade instantânea, que lhe é pior que a morte. Antes do vaticínio, os que vão ao paredão são votados pelos outros Brothers. O confessionário já não é mais o lugar privado no qual revelamos nossas fragilidades pessoais e buscamos ajuda, ele agora é um lugar público onde acusamos os outros, revelando a fragilidade alheia e jogando-os aos leões da opinião pública. Enquanto isso, o maestro Pedro Bial, fazendo às vezes de um novo Nero, a cada paredão usa seus textos inteligentes para tentar dar beleza ao grotesco, deixando sua poesia tão profunda quanto alguns Power Points que recebemos por e-mail com mensagens piegas e previsíveis. Na mesma sala, muitas famílias que assistem paralisadas o desenrolar dos dramas vividos pelos Brothers, continuam com os mesmos problemas pessoais da falta de afeto, de perdão, de companheiros, de cumplicidade.
A arte é o belo para o bom, o entretenimento do tipo Big Brother é o nada para o nada.
A cada paredão, imaginamos alterar o destino de cada Brother, enquanto nossas vidas continuam inalteradas. Os Brothers são os novos gladiadores, os telespectadores, os cidadãos da nova Roma sentados no sofá como se estivessem na arena. O pão e o circo só mudam de forma, mas continuam atingindo os mesmo objetivos: fazer-nos rir das desgraças alheias para esquecermo-nos das nossas...

Do paraibaonline.com.br
Rossandro Klinjey