Instituições como o BNDES consideram o valor das ideias para concessão de financiamentos
Há dois anos, depois de criar osso injetável e um composto que acelera em seis vezes o crescimento de partes do esqueleto, o cientista Walter Israel Cabrera, da Universidade de São Paulo (USP), resolveu montar sua própria empresa, a Bioactive. Sem acesso a crédito, no entanto, até pouco tempo atrás o pesquisador tirava do próprio bolso R$ 4 mil por mês para manutenção do negócio, que conta com o apoio da incubadora Cietec, de São Paulo. Histórias como essa começam a mudar. A Bioactive é uma das 1.800 selecionadas na rodada inicial do Prime — Primeira Empresa Inovadora, da Finep, que vai repassar R$ 120 mil não reembolsáveis, para cada aprovado, a partir deste mês. Com o dinheiro, Cabrera poderá obter registros e adequar o laboratório às normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Devemos faturar R$ 350 mil por mês quando começarmos a vender os produtos”, diz. Cabrera se beneficiou de uma tendência que está ganhando força no Brasil: a incorporação de ativos intangíveis, ou seja, de potencial inovador, e de negócios como parte dos valores de que a empresa dispõe para obtenção de recursos. “Essa já é uma realidade no exterior”, explica a superintendente de Subvenção e Cooperação da Finep, Gina Paladino. O próprio Prime é um exemplo de que a inovação não passa apenas pelas empresas, mas também pelos financiamentos. O programa conta com R$ 1,3 bilhão e deve favorecer cinco mil negócios. Com o mesmo objetivo, o BNDES se prepara para mudar a metodologia de análise e incluir ideias como garantia de crédito. O sistema já está em teste na instituição, mas sem data para a estreia oficial. “O peso dos ativos intangíveis pode chegar a 50% das exigências para crédito”, explica o gerente do Departamento de Risco e Crédito do banco, Adriano Dias Mendes.