domingo, 14 de fevereiro de 2010

A debandada começou



Com a aproximação das eleições, quase um terço dos ministros do governo Lula deve deixar suas pastas para disputar cargos em outubro



Tarso Genro, ministro da Justiça desde 2007, puxou a fila. Na quarta-feira (10), ele transmitiu o cargo para seu secretário-executivo, Luiz Paulo Barreto, e ficou livre para se candidatar ao governo do Rio Grande do Sul pelo PT. Assim como Tarso, pelo menos mais dez ministros devem deixar o governo até 3 de abril (o prazo de seis meses antes do primeiro turno é estabelecido pela lei eleitoral) para disputar as eleições de 2010. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou que vai substituí-los por técnicos que já fazem parte da estrutura da pasta, mas ainda pairam dúvidas sobre os efeitos que essas saídas terão para o governo e até para a eleição. Em uma reunião ministerial em janeiro, Lula transpareceu preocupação e lamentou o “entra e sai de ministros” em seu gabinete pedindo para deixar o governo. “Eu gostaria que todo mundo ficasse aqui menos a Dilma”, disse Lula. O objetivo do presidente é fazer da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sua sucessora, e ele reconhece que precisará de apoio nos Estados para isso. Assim, terá que abrir mão de alguns ministros para que eles atuem na campanha, tanto em interesse próprio nas disputas estaduais quanto da candidatura de Dilma.
Ao mesmo tempo em que cuida da sucessão, Lula trata de evitar que a debandada de ministros afete negativamente as ações do governo neste último ano – entre as pastas que perderão seus cabeças estão as que cuidam do Bolsa Família e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Uma atuação ruim dos governos mancharia a boa imagem que Lula tem (que lhe dá uma popularidade em torno de 80%) prejudicaria Dilma. A solução encontrada foi, então, alçar secretários-executivos e chefes de gabinete aos comandos das pastas. “Lula precisa garantir a continuidade dos projetos e, a dez meses do fim do governo, não há mais tempo para criar novas diretrizes ou redirecionar os ministérios”, diz Leonardo Barreto, pesquisador do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB).
Segundo Barreto, a efetivação dos secretários-executivos é uma boa prática pois eles já possuem o "controle da máquina" e não perderão tempo fazendo modificações na estrutura das pastas. Além disso, ao mostrar preferência por administradores, em sua maioria, "técnicos", Lula evita uma disputa na base aliada pelos cargos, o que poderia prejudicar a campanha de Dilma.