Receita nordestina que foi oferecida ao rei do cangaço é preservada na família de Maria Nevite Vital por mais de três gerações
Ela nasceu Maria Nevite Vital, em 20 de janeiro de 1925, na zona rural da cidade de Jardim, no Cariri cearense. Terceira dos treze filhos de José Antonio Vital e Maria Vidal, Nevite viveu no Sítio Corrente até se casar, em 1942, aos 17 anos de idade, com Luís Pereira Sobrinho, que carinhosamente a chamava de "princesa". O codinome persistiu pelos 54 anos que durou o casamento, mas a trajetória de luta, trabalho e sofrimento dessa cearense, que, como milhares de nordestinos, veio tentar a sorte na Região Sudeste, pouco se assemelha à vida das princesas na corte. Da infância ela lembra com saudade. A vida no sítio era confortável e pacata, e as imagens que povoam as lembranças de Nevite falam da quantidade de caju, cajá e ingá (fruta parecida com uma vagem) que havia na propriedade.
Foi no Sítio Corrente também que Nevite viveu uma grande emoção, quando aos 7 anos assistiu à visita do bando de cangaceiros liderado por Lampião a sua residência. O pai, zeloso pela família, apesar de surpreso com a chegada repentina, recebeu o bando muito bem e pediu para que a esposa preparasse um lanche. "Toda vida meu pai gostou de criar gado, para não faltar leite e queijo em casa. Naquela noite, mamãe montou uma mesa caprichada com coalhada, que era servida com rapadura, tapioca com queijo e café", lembra Nevite, hoje com 84 anos.
Dona Nevite, a 'bivó', preserva a receita familiar há mais de 70 anos
Depois do lanche e antes de ir embora, Lampião escolheu o melhor cavalo de José Vital e lhe pediu emprestado. "Meu pai deu o animal como perdido, mais dali a três dias o bicho voltou com arreio e tudo", conta. Foi alguns anos depois da inesperada visita que Nevite preparou sua primeira tapioca, aos 12 anos de idade, igualzinha à da mãe, perpetuando assim a receita. "Eu era a mais velha das mulheres e depois dos 10 passei a ajudar minha mãe na cozinha", diz. Em 1944, o pai de Nevite comprou terras em Andradina, SP, e em Nova Andradina, MS. Quatro anos depois, ela, o marido e os quatro filhos pisaram em solo paulista após uma viagem de caminhão, navio e trem que durou 24 dias. "Fomos para Juazeiro (Bahia), onde tomamos o navio a vapor para Pirapora, MG. Pegamos um trem para São Paulo, outro para Bauru e outro para Andradina", lembra.
A terra natal ficou para trás, mas os costumes não. Além da rede, onde Luís Pereira descansava após um banho vespertino, balançando ao som dos passarinhos que mantinha na garagem de casa, a receita da tapioca se perpetuou na família, sendo ensinada às filhas e às netas. Em Andradina, Nevite morou por poucos dias no Sítio Figueira, de 45 alqueires, de seu pai. "Fomos para a cidade, pois meu marido queria trabalhar no comércio." A vinda para São Paulo aconteceu porque Luís queria formar os filhos. Falecido em 1995, ele montou e manteve o armazém Casa Vital, de secos e molhados, de 1949 a 1988, período em que o casal conseguiu diplomar os seis filhos, Persival, Ivonete, Izonita, Ivonizia, Lucia e Paulo. Com a morte de Luís, a "princesa" voltou a ser novamente Maria Nevite. Mas, com a chegada dos bisnetos - que já somam 12 -, virou "bivó", como é hoje carinhosamente chamada por todos da família. Da longa trajetória, restam sua parte da herança da Figueira, de 18 alqueires, a saudade da terra natal e a tradição de reunir a família com a tapioca.
Foi no Sítio Corrente também que Nevite viveu uma grande emoção, quando aos 7 anos assistiu à visita do bando de cangaceiros liderado por Lampião a sua residência. O pai, zeloso pela família, apesar de surpreso com a chegada repentina, recebeu o bando muito bem e pediu para que a esposa preparasse um lanche. "Toda vida meu pai gostou de criar gado, para não faltar leite e queijo em casa. Naquela noite, mamãe montou uma mesa caprichada com coalhada, que era servida com rapadura, tapioca com queijo e café", lembra Nevite, hoje com 84 anos.
Dona Nevite, a 'bivó', preserva a receita familiar há mais de 70 anos
Depois do lanche e antes de ir embora, Lampião escolheu o melhor cavalo de José Vital e lhe pediu emprestado. "Meu pai deu o animal como perdido, mais dali a três dias o bicho voltou com arreio e tudo", conta. Foi alguns anos depois da inesperada visita que Nevite preparou sua primeira tapioca, aos 12 anos de idade, igualzinha à da mãe, perpetuando assim a receita. "Eu era a mais velha das mulheres e depois dos 10 passei a ajudar minha mãe na cozinha", diz. Em 1944, o pai de Nevite comprou terras em Andradina, SP, e em Nova Andradina, MS. Quatro anos depois, ela, o marido e os quatro filhos pisaram em solo paulista após uma viagem de caminhão, navio e trem que durou 24 dias. "Fomos para Juazeiro (Bahia), onde tomamos o navio a vapor para Pirapora, MG. Pegamos um trem para São Paulo, outro para Bauru e outro para Andradina", lembra.
A terra natal ficou para trás, mas os costumes não. Além da rede, onde Luís Pereira descansava após um banho vespertino, balançando ao som dos passarinhos que mantinha na garagem de casa, a receita da tapioca se perpetuou na família, sendo ensinada às filhas e às netas. Em Andradina, Nevite morou por poucos dias no Sítio Figueira, de 45 alqueires, de seu pai. "Fomos para a cidade, pois meu marido queria trabalhar no comércio." A vinda para São Paulo aconteceu porque Luís queria formar os filhos. Falecido em 1995, ele montou e manteve o armazém Casa Vital, de secos e molhados, de 1949 a 1988, período em que o casal conseguiu diplomar os seis filhos, Persival, Ivonete, Izonita, Ivonizia, Lucia e Paulo. Com a morte de Luís, a "princesa" voltou a ser novamente Maria Nevite. Mas, com a chegada dos bisnetos - que já somam 12 -, virou "bivó", como é hoje carinhosamente chamada por todos da família. Da longa trajetória, restam sua parte da herança da Figueira, de 18 alqueires, a saudade da terra natal e a tradição de reunir a família com a tapioca.
Por Luciana Franco