segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Mamografia: ninguém me convence a esperar até os 50


A partir de que idade as mulheres devem começar a fazer mamografia? Aos 40 ou aos 50? Essa é uma das grandes controvérsias recentes da medicina. Na última década, foram divulgados vários estudos e recomendações conflitantes. Nos últimos dias, a discussão recomeçou. Os especialistas debateram. E, como sempre, as mulheres ficaram sem saber em quem acreditar.
A confusão começou quando um painel de especialistas em prevenção que faz recomendações ao governo americano divulgou uma nova diretriz. Segundo o grupo, mulheres que não pertencem ao grupo de risco (sem histórico familiar de câncer de mama, exposição repetida à radiação ou mutação genética específica) devem começar a fazer mamografia a partir dos 50 anos e repeti-la a cada dois anos. A recomendação atual é fazer o exame anualmente a partir dos 40.
O painel concluiu que nos Estados Unidos há excesso de exames. Isso significa desperdício de dinheiro e pouco benefício. Os especialistas reconhecem que a mamografia salva vidas de mulheres na faixa dos 40 anos. Mas, nesse grupo etário, o custo-benefício é pouco favorável. Nos Estados Unidos, uma morte é evitada a cada 1.904 mulheres que fazem mamografia dos 40 aos 49 anos. O resultado é um pouco melhor no grupo de 50 a 59 anos: uma morte é evitada a cada 1.339 pacientes. O benefício se torna inequívoco na faixa de 60 a 69 anos: uma morte é evitada a cada 377 pacientes submetidas ao exame.
A mudança proposta nos Estados Unidos visa combater o excesso de exames, biópsias e tratamento desnecessários. A justificativa: quando o exame aponta algum sinal suspeito de tumor maligno, o médico pede uma biópsia. Muitas mulheres sofrem o desconforto e o stress de se submeter ao procedimento quando na verdade não têm câncer.
Em outros casos, o câncer é confirmado. A mulher enfrenta um tratamento agressivo (quimioterapia e radioterapia) para conter a doença. Acontece que alguns tumores crescem tão lentamente que – mesmo sem serem combatidos – não matam. Ou seja: a mulher morre de outra causa antes que o tumor tenha tempo de causar danos.
Tudo isso pode realmente ocorrer. Mas o que você prefere? Fazer mamografia a partir dos 40 anos e correr o risco de enfrentar uma biópsia desnecessária ou deixar para fazer o exame apenas depois dos 50 e perder a chance de descobrir o câncer numa fase inicial?
Não tenho dúvidas de que prefiro estar no primeiro grupo. Ninguém me convence a esperar até os 50. Fiz minha primeira mamografia neste ano, aos 39. Sabia que seria um exame desagradável. Descobri que é bem pior do que imaginava. O exame dói. Muito. Muito mesmo. A máquina deixou uma marca no meu peito. Meus seios ficaram doloridos durante dois dias.
O mamógrafo lembra um rolo compressor. Enquanto eu estava presa ali, com o seio esmagado pela máquina, pensei que aquilo só poderia ser uma invenção masculina. Estava certa. Foi ideia de um médico alemão. Tentava imaginar como esse homem se sentiria se tivesse que passar por um exame baseado no esmagamento de seus testículos. Foi um pensamento imbecil, mas justificável.
Aguentei firme e calada porque acredito no benefício da mamografia. Esse primeiro exame, feito antes dos 40 anos, é um registro do tecido normal das minhas mamas. É uma espécie de fotografia que vai nortear todas as avaliações futuras. O radiologista e o ginecologista já sabem qual é o padrão do meu tecido mamário. Ao comparar esse padrão com as imagens reveladas pelas próximas mamografias, poderão identificar qualquer anormalidade.
CRISTIANE SEGATTO