sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Estudos avaliam a real eficácia da acupuntura


Pessoas que acreditam na acupuntura dizem não se importar se estudos científicos descobrirem que o tratamento surte um forte efeito placebo
Há pelo menos dois mil anos, curandeiros chineses usam a acupuntura para tratar dores e outros problemas de saúde. Agora, os médicos ocidentais querem provas de que a prática funciona.
Há poucas dúvidas de que as pessoas se sentem melhor após receber o tratamento, onde finas agulhas são inseridas profundamente na pele em pontos específicos do corpo. Mas elas estariam se beneficiando da própria acupuntura, ou simplesmente sentindo um efeito placebo?
A discussão foi abastecida, na última semana, por um estudo na revista “Arthritis Care and Research”. Pesquisadores do Centro de Câncer MD Anderson, em Houston, descobriram que, para 455 pacientes com uma grave artrite no joelho, a acupuntura entregou o mesmo alívio que um tratamento falso.
Na verdade, os pacientes conseguiram uma redução significativa na dor com ambos os tratamentos – uma redução média de um ponto, numa escala de um a sete.
Críticos sustentam que o estudo foi mal projetado. Para começar, segundo eles, os pacientes dos dois grupos receberam tratamentos com agulhas e estímulos elétricos; a principal diferença era que, no grupo do procedimento falso, as agulhas não eram inseridas tão profundamente, e os estímulos tinham uma duração bem menor.
No mundo real, porém, um acupunturista experiente personalizaria o tratamento aos sintomas específicos de cada paciente. Neste estudo, os pacientes do grupo de acupuntura “real” receberam as agulhas todos da mesma forma.
Qualquer ponto
Em outras palavras, em vez de provar que a acupuntura não funciona, o estudo pode sugerir que ela funciona mesmo quando mal realizada. Mas a verdadeira lição, segundo os defensores da prática, é o quão difícil pode ser aplicar os padrões de pesquisa ocidentais a uma arte de cura da antiguidade.
“As pessoas dizem que não existem pontos inativos para a acupuntura – basicamente, qualquer lugar do corpo onde você inserir uma agulha será um ponto ativo”, explicou Alex Moroz, experiente acupunturista que dirige o programa de músculo e esqueleto do departamento de medicina de reabilitação da Universidade de Nova York. “Existe uma corrente de literatura que argumenta que toda a abordagem ao estudo da acupuntura não se presta ao método científico reducionista do Ocidente”.
Porém, a principal autora do estudo, Maria E. Suarez-Almazor, aponta que o tratamento falso foi desenvolvido com a ajuda de acupunturistas experientes. Num estudo de medicamentos, uma resposta igual nos grupos de tratamento e placebo provaria que o medicamento não funciona, diz ela.
“Nós realmente trabalhamos com acupunturistas que são treinados no estilo chinês tradicional, e pedimos que eles inventassem um processo falso que fosse crível”, afirmou Suarez-Almazor. “Nós não planejamos um estudo para mostrar que a acupuntura não funciona. Os resultados vieram sem nenhuma diferença entre os grupos”.
A pesquisa da MD Anderson, assim como outros estudos recentes sobre a acupuntura, geraram especulações de que a picada da agulha, seja ela da verdadeira acupuntura ou de uma versão falsa, pode influenciar a forma como o corpo processa e transmite sinais de dor.
Um estudo de 2007 com 1.200 pacientes com dor nas costas, financiado por companhias de seguros da Alemanha, mostrou que cerca da metade dos pacientes, igualmente nos grupos de acupuntura real e falsa, sentiam menos dores após o tratamento, frente a apenas 27% dos que haviam recebido fisioterapia ou outro tratamento tradicional para as costas.
Quando os alemães rastrearam a quantidade de remédios para dor usada pelos pacientes, eles identificaram uma diferença considerável entre a acupuntura real e o tratamento falso. Apenas 15% dos pacientes do grupo de acupuntura precisaram de remédios adicionais para dor, frente a 34% daqueles no grupo falso. O grupo que recebeu tratamentos convencionais para as costas se saiu ainda pior: 59% desses pacientes precisaram de analgésicos adicionais.
Os pesquisadores, que publicaram suas descobertas em “Archives of Internal Medicine”, especularam que a inserção de agulhas numa região com dor pode ter causado um “superefeito placebo”, desencadeando uma série de reações que alteram a forma como a o corpo experimenta a dor.
Outro estudo, este financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA e publicado em 2004, descobriu que a acupuntura reduzia significativamente a dor e melhorava a função em pacientes com artrite no joelho – frente a um tratamento falso ou aos tratamentos de rotina para o joelho.
No entanto, esse resultado foi questionado, pois os pacientes do grupo falso provavelmente descobriram que não estavam recebendo o tratamento verdadeiro. Eles receberam apenas duas inserções de agulhas no abdômen, enquanto uma agulha era simplesmente pressionada por nove regiões da perna e colada à pele para imitar a acupuntura. Uma simulação de máquina de estímulos elétricos zumbia e piscava ao lado, mas não emitia qualquer corrente ao corpo.
Antidepressivo
Neste ano, pesquisadores do Hospital Henry Ford, em Detroit, solucionaram o problema da criação de uma acupuntura falsa: eles não o fizeram. Em vez disso, compararam a acupuntura a um remédio comprovado – o Effexor, um antidepressivo que provou reduzir significativamente as ondas de calor em pacientes com câncer de mama.
Os resultados foram surpreendentes. A acupuntura aliviou as ondas de calor tanto quanto o Effexor, com menos efeitos colaterais. O grupo da acupuntura relatou mais energia e até mesmo um aumento no impulso sexual, em comparação ao grupo usando o Effexor.
“Existem algumas coisas que você não pode estudar da mesma forma que fazemos com remédios”, disse Eleanor M. Walker, diretora de oncologia de câncer de mama do Sistema de Saúde Henry Ford. “O ponto que não pode ser discutido em meu estudo é a duração do efeito. Ele dura, e o efeito placebo acaba assim que você interrompe o tratamento”.
Porém, os crentes na acupuntura dizem não se importar se estudos científicos ocidentais descobrirem que o tratamento surte um forte efeito placebo. Afinal, o objetivo do que eles chamam de medicina integrativa, que combina tratamentos convencionais e alternativos, como a acupuntura, é o de armar o poder do corpo de curar a si mesmo. Não importa se esse poder é estimulado por um efeito placebo ou pela habilidosa inserção de agulhas.
“Na medicina integrativa, quando os pacientes estão envolvidos em seu processo de cura, eles geralmente têm uma tendência a melhorar”, explicou Angela Johnson, praticante de medicina chinesa no Hospital Infantil Rush, em Chicago, que está conduzindo um estudo-piloto sobre a acupuntura para aliviar a dor em crianças. “Acredito que isso seja parte da razão pela qual eles melhoram”.

Por Tara Parker-Pope