terça-feira, 8 de junho de 2010

Os segredos no fim do arco-íris



O que motiva animais e humanos a terem relações homossexuais? O colunista Jerry Borges discute estudos recentes e defende que o tema não deve ser tratado como tabu, e sim estudado cientificamente como qualquer outro fenômeno natural.

A bandeira do arco-íris, símbolo do orgulho gay

O interesse por indivíduos do mesmo sexo está amplamente documentado em invertebrados e em todos os grupos de vertebrados. Entre esses seres, há diversas espécies cujos representantes cortejam, copulam e, menos frequentemente, estabelecem relações duradouras com parceiros do mesmo sexo.
Um levantamento realizado por Bruce Bagemihl, pesquisador canadense da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC), documentou, a partir de uma análise da literatura, a ocorrência de relações entre indivíduos do mesmo sexo em pelo menos 450 espécies. Contudo, apesar da difusão desse comportamento, o interesse por indivíduos do mesmo sexo tem sido considerado um enigma para os estudiosos do assunto.
Por que animais se dedicariam a comportamentos sexuais que não resultariam em sua reprodução, e não produziriam descendentes que poderiam perpetuar a sua herança genética desses seres?
Pesquisas realizadas indicam que há vários fatores associados ao interesse entre indivíduos do mesmo sexo. Nos golfinhos nariz-de-garrafa (Thursiops sp.), frequentemente citados por exibirem esse comportamento, cerca de metade dos machos formam casais duradouros entre si.
Relações entre indivíduos do mesmo sexo podem diminuir a agressividade e auxiliar na manutenção da coesão social
Casais femininos também são observados. Exemplos comuns são os carneiros selvagens (Ovis canadensis), os bonobos (Pan paniscus) e os albatrozes (Phoebastria immutabilis).
A ocorrência de relações sexuais entre indivíduos do mesmo sexo pode, nesses animais, diminuir as tensões e a agressividade e auxiliar na manutenção da coesão social e no fortalecimento das relações entre indivíduos de uma mesma população.
Esse comportamento pode também auxiliar na criação da prole desses animais, facilitando a alimentação e proteção dos filhotes. É provável que a formação desses casais também confira aos animais proteção contra predadores e um maior sucesso na caça de suas presas. Assim, esse tipo de comportamento estaria associado com um processo de seleção consanguínea.
Uma explicação alternativa alega que esse comportamento diminuiria agressões e conflitos entre sexos. Um exemplo é observado nos peixes mexicanos Girardinichthys multiradiatus, que simulam a aparência de fêmeas para evitar a agressão de machos maiores e, ao mesmo tempo, garantir o acesso a fêmeas.
Uma interação interessante entre indivíduos do mesmo sexo é observada entre cobras-garter (Thamnophis sirtalis parietalis). Nesses animais, alguns machos mimetizam o tamanho, os comportamentos e os ferômonios de fêmeas para poderem atrair outros machos e, assim, obter aquecimento e proteção.


Outros estudos afirmam que a ocorrência de gestações anteriores de fetos do sexo masculino poderia aumentar a probabilidade da ocorrência de homossexualidade nos próximos filhos homens.
Segundo uma pesquisa realizada por Anthony Bogaert, da Universidade de Brock, no Canadá, os fetos masculinos podem ser expostos a anticorpos maternos antimasculinos, que se acumulariam em gestações múltiplas desse sexo e que, assim, poderiam afetar a diferenciação sexual e o desenvolvimento cerebral dessas crianças.
A associação entre homossexualidade e ativação por feromônios também está no foco de vários pesquisadores, como, por exemplo, Ivanka Salic, da Universidade Kariolisnka (Suécia). Segundo Salic, nos cérebros de homossexuais do sexo masculino, há regiões ativadas em resposta a derivados da testosterona, e que apresentam propriedades similares às dos feromônios.
Apesar da enorme complexidade, algumas hipóteses para as relações entre animais podem ser aventadas para explicar o comportamento entre humanos
Em homossexuais do sexo feminino, Salic também observou que há regiões similares ativadas por derivados de estrógenos. Outros pesquisadores também associam o comportamento homossexual com alterações anatômicas em conexões da região cerebral da amígdala.
Apesar da enorme complexidade associada às manifestações comportamentais em nossa espécie, algumas das hipóteses citadas anteriormente para justificar relações homossexuais entre animais podem ser também aventadas para explicar esse comportamento entre os humanos.
Assim, a ocorrência de relações sexuais entre indivíduos do mesmo sexo também poderia, na nossa espécie, estar associada à manutenção da coesão social e no fortalecimento das relações entre indivíduos de uma mesma população. Um possível exemplo desse comportamento seriam as interações entre os guerreiros de Esparta, na Grécia antiga.
A interação entre indivíduos do mesmo sexo como oportunidade para que os jovens aprendam com indivíduos mais experientes também poderia estar associada a comportamentos humanos. Um exemplo para tal também está na Grécia antiga, nas relações entre os discípulos e seus mestres filósofos em Atenas.

Por: Jerry Carvalho Borges