A posse dos ministros Aloizio Mercadante (na Educação) e Marco Antonio Raupp (na Ciência e Tecnologia), realizada nesta terça-feira (24), no Palácio do Planalto, foi além de seu objetivos básicos – trocar o comando das pastas. A cerimônia, que esteve lotada de deputados, senadores, governadores e ministros, se tornou uma homenagem ao ex-presidente Lula, que faz um tratamento contra um câncer de laringe, e palanque para a candidatura de Fernando Haddad, que deixa a Educação para disputar a Prefeitura de São Paulo. Lula, que conseguiu uma autorização de seus médicos para viajar de São Paulo para Brasília, foi aplaudido ao entrar no auditório e acompanhou toda a cerimônia ao lado do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Haddad e Mercadante fizeram discursos emocionados, saudando Lula, e chegaram a ficar com a voz embargada enquanto falavam de seu padrinho político comum. Raupp, com um discurso preparado, não se emocionou. Após o trio de ministros, a presidente Dilma Rousseff assumiu o microfone e fez discurso cujo início e o fim foram marcados por aplausos de pé a Lula. Em sua fala, Dilma afirmou que o seu governo, assim como ocorreu com o de Lula, enfrenta o desafio de fazer o Brasil avançar por meio de duas fases diferentes do desenvolvimento das nações: a de tirar boa parte das pessoas da pobreza e a de inserir o país na “economia do conhecimento”, capaz de gerar valor agregado aos produtos nacionais. Segundo Dilma, Lula foi o responsável por “melhorar a qualidade do desenvolvimento” por meio de programas como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e por meio de um grande esforço na área da educação. Dilma afirmou que o Brasil precisa agora de um “casamento” entre os ministérios da Educação e de Ciência e Tecnologia pois o país só dará “um salto se ampliar o legado da educação”. Ao defender o legado de Lula na educação, Dilma elogiou a gestão de Haddad à frente do ministério, afirmando que estava feliz pelo fato de ele enfrentar um novo desafio, mas triste por perder um “excepcional gestor público, excelente educador e um grande amigo” no ministério. Ao citar o “novo desafio” de Haddad, Dilma fez a única referência da cerimônia ao fato de que Haddad é o candidato escolhido por Lula para representar o PT nas eleições municipais de São Paulo, em outubro. Lula escolheu Haddad em meio a uma disputa integrada por políticos consagrados na capital paulista, como a senadora Marta Suplicy, que, a pedido de Lula, abriu mão da vaga em detrimento de Haddad. No desafio de conquistar a Prefeitura de São Paulo, Haddad terá que enfrentar as polêmicas que viveu à frente do Ministério da Educação (como as diversas falhas no Enem) e o fato de ser pouco conhecido dos eleitores. Para este segundo problema, Haddad conta, como Dilma em 2010, com Lula, considerado o melhor cabo eleitoral do país, mas cuja capacidade ainda precisa ser testada na eleição municipal, como contou ÉPOCA em setembro de 2011: Numa definição que guarda aspectos otimistas e pessimistas, Haddad começa a ser chamado de Dilma 2. Em sua companhia, Lula e uma parcela crescente de petistas alimentam a esperança de repetir, em 2012, a façanha de 2010, quando a “ex-poste” Dilma chegou ao Planalto. A dúvida é saber se o prestígio nacional de Lula pode ser igualmente infalível numa disputa municipal, que tem outro horizonte, outra história e outro debate. A última vitória do PT em São Paulo ocorreu há três eleições. Dilma recebeu 47% dos votos no segundo turno, patamar razoável, mas insuficiente para vencer em 2012. Quando o assunto envolve disputas municipais, o PT não obtém vitórias fáceis nem em São Bernardo, o berço de tudo.
Por José Antonio Lima - Foto: Roberto Stuckert Filho / PR – Do Época