A escolha da área onde se vai investir, dizem os especialistas, tem menos relação com o sexo e mais com o senso de oportunidade do empreendedor (fator que orienta cerca de 60% dos novos negócios no Brasil, segundo pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor).
Levantamento do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) conclui que, em 33% dos casos, as mulheres preferem atividades ligadas ao comércio varejista; 20% investem em alimentação; e 12% apostam na indústria de transformação.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que o setor de serviços é o maior gerador de empregos formais do país – é também, segundo Amisha Miller, gerente de pesquisa da Endeavor, a área em que as mulheres mais inovam e onde têm maior potencial de crescimento. Maurício Galhardo, da Praxis Education, consultoria especializada em varejo, franquia, indústria e educação corporativa, não acredita, no entanto, que haja alguma orientação ou restrição sexista quanto à empreendedora investir em qualquer direção. “Basta olharmos ao redor para vermos mulheres donas de oficinas mecânicas, borracharias e transportadoras.” Fernando Serra, da HSM Educação, concorda. “Ela pode atuar em atividades tipicamente masculinas. Pode abrir uma escola de futebol feminino, com a jogadora Marta ensinando.”
Se alguém está sofrendo restrição em algumas áreas, na opinião de Galhardo, são os homens. “Alguns segmentos de beleza não os aceitam à frente do negócio por acharem que eles não conhecem muito bem o universo feminino.”
Empresas ligadas à beleza e à estética, diz Serra, têm proliferado em larga escala. “Esses negócios costumam ser mais bem explorados por mulheres. A moda também é uma área promissora para elas, e isso inclui roupas para crianças”, acredita.
A vice-presidente da Associação Brasileira de Franchising, Cristina Franco, concorda: saúde/beleza, que ela agrupa num só setor, é um dos segmentos que mais crescem – a seguir, ela relaciona alimentação, vestuário, acessórios e calçados. Otimista, Cristina estima que a área de franquias crescerá 15% este ano, três vezes mais que o PIB. “Não é difícil uma mulher ser empreendedora. Basta que ela faça uma análise profunda de onde quer investir e escolha um negócio com o qual se identifique”, avalia.
Um bom empreendedor, homem ou mulher, acha a oportunidade onde ela estiver. Essa é a tese de Samy Dana, professor de finanças na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. “Antes de abrir qualquer negócio, porém, é necessário fazer pesquisa de mercado”, ensina. Principalmente no caso de franquias estrangeiras. Segundo o professor, corre-se o risco de importar tecnologia a um alto preço e depois não obter o retorno que viabilize a continuidade do negócio.
Outro ponto favorável às mulheres: pesquisa recente do Instituto Endeavor mostra que elas têm mais cautela na hora de empreender. A mulher prefere se arriscar em um setor que já conhece, seja por formação acadêmica, seja por experiência profissional. Enquanto os homens se concentram em áreas mais tradicionais (como a indústria, por exemplo) e preferem inovar na criação de produtos – há bem mais registros de patentes feitos por empresas “masculinas” –, as mulheres inovam no processo produtivo (como a implementação de novas técnicas de marketing e de recursos humanos). Por serem mais sutis, esses avanços têm mais dificuldade em obter financiamento. “É preciso que as instituições de fomento aprendam a lidar com o jeito diferente de fazer negócios das mulheres”, diz a pesquisadora Amisha Miller.
Por João Luiz Vieira Do PEGN