quinta-feira, 18 de agosto de 2011

“Para inovar, o empreendedor brasileiro deve estudar o mercado internacional”, afirma economista


De passagem pelo país, o alemão Wolfgang Reichenberger aponta falhas no sistema de inovação nacional

O economista Wolfgang Reichenberger. (Foto: Divulgação)

Avaliar a concorrência é hábito entre empreendedores que desejam lançar um produto ou serviço inovadores. Mas, para o economista alemão Wolfgang Reichenberger, a medida não é suficiente e deve estar sempre acompanhada de um profundo estudo do mercado internacional. Na entrevista a seguir, o especialista, que é fundador do Inventages, fundo especializado em nutrição e biociência, e ex-CEO da Nestlé no Japão, aponta falhas no sistema nacional de inovação, compara a situação brasileira com a de outros países latinos e defende o crescimento das classes baixa e média como fonte de oportunidades de negócios.

Por que as pequenas empresas inovam mais do que as grandes corporações?

Na área de nutrição, ciência e medicina, a motivação e, principalmente, a paixão dos novos empreendedores pelo produto ou serviço que criaram determinam o grau de inovação de uma empresa. Muitos deles começam um negócio por causa de um problema de saúde pessoal ou de um familiar. Outros querem lançar algo que contribua com a melhora do mundo, do meio ambiente ou com a vida de milhares de pessoas.

O que as grandes empresas podem fazer para não perder chances de inovar?

Como já têm dinheiro, as grandes empresas costumam investir muito em pesquisas. Mas uma ótima solução seria se juntarem a pequenas companhias que estão se destacando, aproveitando o potencial dos novos empreendedores.

Quando o fundo Inventages foi fundado e quantas empresas já foram investidas?

O Inventages foi fundado em 2000 e já beneficiou cerca de 40 empresas.

Quais são requisitos para que uma empresa conquiste investimentos deste fundo?

O único requisito é que ela tenha um produto inovador, único, que não exista em nenhum lugar do mundo. Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, China e Europa estão entre os que mais receberam investimentos até hoje.

E o Brasil?

O Brasil não teve espaço porque nunca apresentou coisas novas. O que é novidade aqui pode não ser em outro lugar do mundo. Para inovar, o empreendedor brasileiro deve estudar o mercado internacional.

Em relação aos países latinos, em que patamar está o Brasil em relação à inovação?

Nessa questão vale o ditado “Em terra de cego, quem tem um olho é rei”. O Brasil está adiantado em relação aos seus vizinhos, mas não deve buscar referências na América Latina. China, Índia e África do Sul servem como parâmetro para os brasileiros, mas esses povos ainda estão na frente.

O que o empreendedor brasileiro pode fazer para reverter esta situação?

O brasileiro precisa valorizar o enorme potencial da biodiversidade do país e parar de vender petróleo bruto ou açaí e água de coco in natura, por exemplo. Também precisa aproveitar o crescimento das classes sociais baixas e médias, que são muito mais abertas à novidade. Um caminho é investir na transformação de matérias-primas para acrescentar valor aos seus produtos.

Por Juliana Bacci