sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A luta pela sobrevivência


Histórico do empreendedor, rede de relacionamentos ou gestão do negócio: qual desses fatores pode prolongar o tempo de vida de uma startup? Estudo realizado pelo Insper com 1.961 empresas de São Paulo mostra como é possível aumentar as chances de sobrevivência do seu empreendimento

Por que uma empresa nascente é mais bem-sucedida do que outra? O que faz com que consiga sobreviver aos primeiros anos de vida? Quais são os fatores que podem prolongar sua existência? Foram essas perguntas que levaram o professor do Departamento de Estratégia e Organizações do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Fabio Mizumoto, e mais quatro colegas, a realizar a pesquisa “A sobrevivência de empresas nascentes no estado de São Paulo: um estudo sobre capital humano, capital social e práticas gerenciais”, publicada recentemente na Revista de Administração da Universidade de São Paulo (Rausp).

“Existem muitos estudos internacionais que levam em conta as habilidades do empreendedor e sua rede de relacionamentos”, diz Mizumoto. “Mas faltava uma pesquisa brasileira que incluísse as práticas gerenciais, mostrando como esses três fatores, juntos, influenciam a sobrevivência dos negócios.” Foram analisadas 1.961 empresas abertas e registradas na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) entre os anos de 1999 e 2003. Os empreendedores responderam a perguntas relacionadas ao capital humano (competências e habilidades do empreendedor, desenvolvidas ao longo dos anos), capital social (os recursos ligados à rede de relacionamentos do empresário) e práticas gerenciais (ações adotadas após a abertura da empresa).

A primeira conclusão não chega a surpreender: nenhum fator, sozinho, determina o sucesso ou o fracasso de uma startup. Mas, na hora H, o item mais decisivo são mesmo as práticas gerenciais. “Para os empreendedores que estão passando por dificuldades, trata-se de uma boa notícia: significa que é possível compensar o baixo capital humano ou social com a adoção de novas práticas gerenciais, que podem ser aprendidas em cursos rápidos”, diz o professor. Ainda dentro do quesito gestão, o estudo mostrou que leva vantagem quem consegue antecipar acontecimentos e seguir de forma persistente seus objetivos. “Mas ser persistente não significa ser intransigente. O empreendedor precisa estar atento às mudanças”, afirma Mizumoto. Engana-se quem acha que ter uma grande empresa como concorrente é uma sentença de morte. Ao contrário: esse fator tende a reduzir o risco de fechamento. “A dificuldade faz com que os empreendedores se preparem mais. Eles inovam mais e costumam ser mais eficientes”, diz Mizumoto.

Em relação ao capital humano, ficou claro que preparação é fundamental: o risco de falência para o empreendedor que gastou só cinco meses planejando o negócio é 98% maior do que o risco de quem gastou mais de um ano se preparando. No quesito capital social, um dado curioso: ter um empresário na família pode aumentar as chances do seu negócio. De acordo com a pesquisa, quem tem entre os familiares donos de empresas parecidas tem mais probabilidade de sobreviver. “A possibilidade de esse empreendedor fracassar é 38% menor do que a de um empresário sem esse tipo de conexão”, diz o professor. “Vale ressaltar que a pesquisa se concentrou na sobrevivência da empresa. Seria interessante saber como esses fatores afetam o retorno econômico, por exemplo.”

Elisa Corrêa