terça-feira, 26 de julho de 2011

Sobras da colheita evitam emissão de gás carbônico no ar


Áreas plantadas com cana-de-açúcar foram forrados com palha e reduziram emissões de gases em 20%


Com o solo coberto com palha, canavial pode reduzir em 20% as emissões de gás carbônico na atmosfera

O solo coberto com palha de cana-de-açúcar libera 20% menos gás carbônico na atmosfera, concluíram cientistas da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Câmpus Jaboticabal, no interior de São Paulo. A explicação é que sem a proteção natural o estoque de carbono da terra se dissipa com mais facilidade. No estudo, a diferença na emissão de dióxido de carbono (CO2) entre o terreno coberto pelos detritos e o desprotegido foi de 400 quilos de carbono, ou 1,5 mil quilos de gás carbônico. A equipe foi liderada pelo físico Newton La Scala Júnior.

Uma pesquisa anterior realizada pelo mesmo grupo calculou toda a emissão de gás carbônico de um sistema de cultivo sucroalcooleiro - são 3 mil quilos de CO2 equivalente por hectare. Eles levaram em conta o uso de óleo diesel nos tratores, fertilizantes sintéticos e outros insumos. Com a retirada da palha, haveria esse acréscimo de 1,5 mil quilos, fazendo do solo o maior emissor isolado do sistema.

Para o pesquisador, isso é um alerta para a indústria canavieira, que já desenvolve projetos para o uso da palha da cana na produção de plásticos, energia elétrica a partir da queima da biomassa e até uma modalidade de álcool, o chamado etanol de segunda geração. "Não só do ponto de vista ambiental é mais vantajoso deixar a palha sobre o solo. Ao liberar gás carbônico, o solo fica mais pobre em nutrientes", explica o pesquisador. "Isso significa que a manutenção da palha após a colheita fará o produtor economizar no uso de fertilizantes."

Realizada de 2008 a 2010, a pesquisa é intitulada Impact of management practices on soil CO2 emissions in sugarcane production areas, southern Brazil (Impactos das práticas de manejo nas emissões de CO2 do solo em áreas de produção de cana-de-açúcar no Sudeste do Brasil). O projeto teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

"Sabidamente, as áreas com cana crua, onde a colheita foi mecanizada, ou seja, não utilizou a queima, são menos poluidoras do ar", diz La Scala. "Mas nossa pesquisa mostra que, mesmo no sistema menos contaminante, a simples retirada da cobertura do solo já causa emissões de CO2 significativas."

O pesquisador ressalta ainda que esse nível de poluição é o mesmo provocado quando a terra é preparada para um novo plantio. Na cultura da cana-de-açúcar, entretanto, esse trabalho só é realizado a cada cinco anos. "Para a atmosfera, é como se tivéssemos um preparo de solo anual."

Método

A investigação comparou três cenários: terreno coberto com uma espessa camada de palha de cana-de-açúcar, exatamente como fica o chão após a colheita mecanizada; solo com apenas parte dessa palha; e lavoura sem nenhuma proteção no solo após a colheita. Para fazer as medições, o cientista espalhou pelos locais suportes de PVC com uma câmara acoplada, uma espécie de tubo que é posicionada sobre o solo. Dentro dela, um sistema com infravermelho capta o fluxo gasoso.

Conforme explica o pesquisador, ao abafar o solo a palha impede que a temperatura da terra se eleve demais. Isso permite que a terra acumule maior índice de umidade e tenha uma atividade microbiana menos intensa. Essa diminuição da atividade das bactérias na terra é que faz com que seja emitido menos gás carbônico.

"Nós já tínhamos uma ideia de que essa emissão seria maior no solo sem a palha de cana, mas não sabíamos que a discrepância seria tão grande", diz. A diferença entre a manutenção de 100% da palha e de apenas parte dela não foi significativa, mas com menos proteção o terreno poderia ficar totalmente descoberto mais rapidamente.

Por Globo Rural On-line