O poder da frustração
Rossandro Klinjey
Há muito tempo sabemos que crianças mimadas, são aquelas cujos pais na vã tentativa de evitar-lhes o sofrimento, procuram impedir que elas sejam expostas às dificuldades naturais do mundo infantil, os tornado adultos imaturos e pouco capazes de lidar com as frustrações comuns da vida humana. Na verdade, os danos causados a essas crianças são tão graves que Sigmund Freud chegou a dizer que se tratava de um mecanismo inconsciente cujo sentimento era o oposto, uma vez que a superproteção estaria escondendo impulsos hostis inconscientes, visto que os excessivos cuidados da mãe para com o filho limitariam a liberdade e o desenvolvimento dessa criança.
Esses cuidados excessivos no fundo não estariam atentando às necessidades reais do filho e sim aos desejos inconscientes da mãe. Nessa condição de afeto patológico a criança passa a sentir-se fragilizada, o que a torna incapaz de superar desafios e frustrações já, que não tendo limites, a criança passa a manipular o mundo que a cerca, sem levar em consideração os limites que a realidade lhe impõe.Agora as conclusões de várias pesquisas confirmam, de forma irrefutável, a importância de a criança encarar as frustrações e com elas aprender e se desenvolver eficazmente.Essas pesquisas começaram a ser feitas desde a década de 1970, quando pesquisadores da Universidade Stanford acompanharam crianças que demonstravam, em experimentos, saber controlar os impulsos.Numa dessas experiências, cada criança do grupo de testes recebeu um chocolate, sendo informada de que se não comesse ganharia, mais tarde, três chocolates. Essas crianças foram acompanhadas por décadas e percebeu-se que, ao comparar o desempenho que obtiveram nas mais variadas atividades, aqueles que souberam se controlar obtiveram vantagens acadêmicas, tirando boas notas.Nessa pesquisa, a psicóloga Terrie Moffitt, professora da Universidade Duke (EUA), onde se localiza um dos mais importantes centros de neurociências do mundo, divulgou um estudo baseado em 30 anos de observação, no qual conclui que os impactos provocados pela capacidade das crianças que desenvolveram o autocontrole vão além de boas notas. “Há um impacto generalizado nas mais diferentes áreas, inclusive na taxa de criminalidade”, afirma.Terrie Moffitt acompanhou 1.037 pessoas desde a primeira infância até os 32 anos de idade para chegar às suas conclusões e obteve ainda resultados semelhantes em suas pesquisas com gêmeos. “Vimos que o autocontrole, depois de descontados fatores como renda e classe social, superou a inteligência como elemento desencadeador de sucesso no universo acadêmico e no profissional.”Assim vemos que o QI cede cada vez mais espaço ao QE, pois o bom desempenho profissional e estudantil está menos ligado à inteligência como conhecemos classicamente, e mais ligadas ao auto controle, um tipo de competência emocional que nos habilita a gerenciar os impulsos, focar o que é relevante e não se desestimular com os reveses naturais da vida, seguindo adiante.