sábado, 16 de julho de 2011

No Morro do Borel, ex-presidiário vira empreendedor e dono de salão



Menos de um ano após sair da cadeia, o cabeleireiro Júlio César dos Santos, de 38 anos, já era um empreendedor formalizado. Libertado no fim de dezembro de 2009, após cumprir pena de quatro anos por roubo a mão armada, ele abriu o Salão Popular Julio César em julho de 2010, no andar de cima da casa onde mora, na parte baixa do Morro do Borel, na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro. Em outubro do mesmo ano, tirou o alvará de microempreendedor individual. Na série sobre formalização nas favelas, o G1 vai contar as histórias de empreendedores nas comunidades pacificadas do Rio de Janeiro.

“A legalização é uma segurança”, afirma Santos, que, desta forma, quer deixar para trás o passado recente: “Quero pagar uma dívida com a sociedade, que não cortou minhas mãos, como em outras nações, e me deu uma nova chance.” Júlio César sonha em abrir um salão no asfalto, na entrada do Borel, e empregar quatro funcionários. (Foto: Bernardo Tabak/G1)

Antes do assalto – “por causa da bebida e da droga fui ao fundo do poço” - , Santos trabalhava como padeiro em grandes redes de supermercados. Na cadeia, ele aprendeu a cortar cabelos. “Não tinha tesoura. Comecei com um pente e uma navalha e cobrava R$ 1 por corte”, conta. “Os presos gostam de andar bonitos. E os agentes penitenciários gostavam de me ver trabalhando”, recorda.

O diretor de uma das penitenciárias onde Santos cumpriu pena deu autorização, em 2006, para que ele comprasse uma máquina de corte de cabelo. “Na cadeia, consegui juntar dinheiro para começar meu trabalho do lado de fora”, explica ele. Quando saiu, a irmã de Santos deu R$ 1,5 mil para ajudá-lo. “Eu não comprei nada para a minha casa: nem cama, nem geladeira, nem fogão. Eu optei pelo meu trabalho”, conta o cabeleireiro, com os olhos cheios d' água.

'Impostos contribuem para sociedade'

Com cadeira própria, espelho, tesoura, pentes, máquina e cosméticos para os cabelos, Santos montou o Salão Popular Júlio Cesar. Hoje, ele cobra R$ 2,50 o corte completo, e oferece várias opções: asa delta, soldadinho, pé quadrado, paulista, costeleta pagodinho e o moicano, muito usado hoje por jogadores de futebol, como Neymar, do Santos, e Léo Moura, do Flamengo.

“Trabalho das 18h às 22h, e o salão fica lotado. Às vezes, vou até meia-noite”, ressalta ele, que diz atender uma média de 30 clientes por dia. “Não estou trabalhando mais cedo por causa do calor. Vou investir em um ar-condicionado”, planeja.


Por Bernado Tabak - Do G1 RJ