domingo, 26 de junho de 2011

Funai encontra indícios da existência de novo grupo de índios isolados na Amazônia




Malocas e roçados no meio da floresta são sinais de que cerca de 200 índios viveriam em tribo sem contato com "não-índios"


 Arquivo
ISOLADOS
Foto aérea de malocas e roçados, vestígios da presença de índios isolados na Amazônia

Nas últimas décadas, diversas etnias e grupos indígenas brasileiros passaram a participar da vida política do país, levando demandas a governantes, protestando e lutando pela demarcação de suas terras. Apesar dessa crescente participação, ainda existem no Brasil grupos de índios que não querem entrar em contato com o "homem branco", e vivem em estado de isolamento voluntário. Esses povos são conhecidos como índios isolados.

Nesta terça-feira (21), a Fundação Nacional do Índio (Funai) divulgou a descoberta de mais um desses grupos, no meio da floresta amazônica. A Frente de Proteção Etnoambiental da Funai encontrou indícios da existência de um grupo de 200 pessoas, provavelmente pertencente à família linguística Pano, na fronteira do Brasil com o Peru.

Os técnicos da Funai primeiro identificaram, em imagens de satélites, três grandes clareiras no meio da floresta, no Vale do Javari, uma terra indígena que fica no sudoeste do Amazonas. Ao sobrevoar o local, encontraram vestígios de presença recente de índios na região, como malocas e roçados. "A roça, bem como as malocas, são novas, datadas de no máximo um ano. O estado das palhas usadas na construção, e a plantação de milho indicam isso. Além do milho, havia banana e uma vegetação rasteira que parecia ser amendoim, entre outras culturas”, explica Fabricio Amorim, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental da Funai.

Segundo a Funai, o Vale do Javari tem maior concentração de grupos isolados da Amazônia, e possivelmente do mundo. Nos últimos cinco anos, técnicos e antropólogos encontraram mais de 90 indícios de ocupação desses grupos, como malocas e roças. A estimativa é que a população total desses povos seja de 2 mil pessoas.

A situação dos índios isolados é bastante delicada.Ao mesmo tempo que é necessário conhecer melhor seus hábitos para protegê-los, é preciso respeitar os limites do isolamento. O contato com não-índios pode disseminar doenças comuns, como a gripe, que pode exterminar povos inteiros, já que esses índios não têm anticorpos para se defender dessas doenças. Além disso, Amorim explica que atividades como a pesca ilegal, a exploração madeireira, o garimpo e narcotráfico também são ameaças ao grupo. "Outra situação que requer cuidados é a exploração de petróleo no Peru, que pode refletir na Terra Indígena do Vale do Javari”, diz o coordenador da Funai.

Em 2008, as primeiras fotografias de uma das quatro etnias que vivem isoladas na fronteira entre o Brasil (no Acre) e o Peru estamparam as primeiras páginas dos jornais e sites. As imagens foram feitas a partir de um pequeno avião. Os índios lançaram flechas contra a aeronave.

BC - Da Redação Época