O titular do palácio do Planalto mudou, mas o comportamento do governo petista diante de um escândalo político no primeiro escalão é o mesmo. Como fazia Lula, a presidente Dilma Rousseff veio a público nesta quinta-feira defender o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e atribuiu a repercussão a uma suposta “politização” da acusação de que o ministro multiplicou por 20 seu patrimônio entre 2006 e 2010. Dilma fez a afirmação em evento para lançar o programa Caminho da Escola no palácio do Planalto, ao qual Palocci também compareceu. O Globo conta:
“Quero assegurar que o ministro Palocci está dando todas as explicações para os órgãos de controle. Espero que essa seja uma questão que não seja politizada como aconteceu ontem, com aquela questão da devolução dos impostos da empresa WTorre”, disse. (…) “O pagamento à empresa não significa nenhuma manipulação. Lamento que um caso deste tipo esteja sendo politizado”
É preciso dividir os comentários de Dilma em duas partes. Ela encerrou sua fala com o argumento da politização do caso, uma referência às suspeitas levantadas pelo PSDB na quarta-feira. Segundo deputados tucanos, a construtora WTorre, cliente da Projeto, consultoria de Palocci, obteve pagamentos de sua restituição de Imposto de Renda em um tempo menor que o normal depois de fazer doações à campanha de Dilma. Diante disso, os deputados suspeitam que Palocci teria feito tráfico de influência, trocando as doações à campanha da petista por um suposto incentivo à Receita Federal para que a restituição fosse liberada.
De fato, os deputados tucanos não provaram suas suspeitas, mas apenas levantaram o que acreditam ser indícios de ilegalidades. Como fizeram a Receita e a WTorre, Dilma afirmou que a restituição foi liberada por ordem da Justiça, setor sobre o qual Palocci não teria influência. Pode ser mesmo verdade, mas o caso é que a sociedade não tem como conferir. E tem todo o direito de suspeitar de seus líderes, ainda mais com o histórico que os políticos brasileiros têm. E é aí que entra a segunda parte da fala de Dilma.
Segundo ela, Palocci está dando explicações aos “órgãos de controle”. Se isso está ocorrendo, por qual razão as explicações não são feitas em público? Palocci afirma que não pode detalhar seus negócios e clientes por assinou com todos eles cláusulas de confidencialidade ao prestar os serviços. Ele tem esse direito, mas também precisa reconhecer que seu silêncio amplifica a polêmica, pois tornou o caso um escândalo de grandes proporções.
Ao se encastelarem e passarem a acusar oposição e imprensa de tentativa de desestabilização, Dilma e Palocci alienam eleitores, dão argumentos aos opositores e desgastam o governo. Como ocorria na era Lula.
Foto: Antonio Cruz / ABr - Por: José Antonio Lima - Do Época