terça-feira, 8 de março de 2011

Mulheres empreendedoras fazem acontecer

Vozes se sobrepõem, como em animadas conversas entre amigas. Há discussão sobre um exercício de negociação praticado há pouco. Algumas mulheres se levantam para opinar. Passado o calor da argumentação, a turma inteira bate palmas. A situação em nada lembra as aulas lotadas de executivos da Fundação Dom Cabral, uma das 10 melhores escolas de negócios do mundo, segundo o ranking do Financial Times. “Elas têm desejo de aprender, prestam muita atenção, perguntam mais e compartilham suas próprias experiências, inclusive de fracassos, e isso enriquece os encontros”, comenta o professor de estratégia e negociação Marcelo Henrique de Melo Fernandes, sobre as 95 eleitas do segundo curso de gestão ministrado pela Fundação que faz parte do programa 10.000 Women, patrocinado pelo banco americano Goldman Sachs. Interessado em formar empreendedoras em mercados emergentes, o banco investiu US$ 100 milhões e espera educar 10 mil mulheres de 20 países em cinco anos. Gratuito, o programa seleciona quem demonstra talento para empreender, mas não teria acesso a essa formação. No Brasil, o universo de empresas abertas por mulheres só aumenta: elas são donas de 52% dos negócios com 42 meses de existência, segundo o último estudo do Global Entrepreunership Monitor (GEM), divulgado ano passado pelo Sebrae nacional. Esse número colocou o país na sétima posição do ranking mundial de empreendedoras.

O programa do Goldman Sachs, que já formou 3 mil alunas, mais de 300 no Brasil, busca qualificar essas mulheres, para que elas desenvolvam as comunidades onde vivem. “Setenta por cento das que completaram o curso relataram aumento de faturamento e criação de empregos em seus negócios no período de seis meses a um ano e meio após sua graduação no programa”, diz Gabriella Antici, responsável pela Goldman Sachs Asset Management Brasil. “O mais interessante, no entanto, é o poder multiplicador desse tipo de educação. Estima-se que cada mulher oriente ou ensine habilidades de negócio para outras 12 a sua volta.”

Nidin Sanches/Nitro
Rosangela das Graças Costa Matos, 42 anos, dona do salão de cabeleireiros Zaza Fashion em Belo Horizonte, administra quatro funcionários e fatura R$ 80 mil por ano

Na Fundação Dom Cabral, a novidade são as mentorias: uma delas, iniciativa da própria escola, conta com executivos voluntários para aconselhar as alunas, a outra, financiada pelo banco americano, vai oferecer consultoria àquelas cujos empreendimentos revelem maior potencial de crescimento. “Tratamos a parte profissional, mas o curso muda a vida delas, o conhecimento gera empoderamento, eleva a auto-estima e tem impactos além das empresas”, afirma Marcele Gama Viana, gerente do programa na Fundação Dom Cabral. Para muitas alunas, mesmo tocando seus negócios há anos, a gestão era uma palavra abstrata. “Nunca tinha ouvido falar disso”, conta Rosangela das Graças Costa Matos, a Zaza, proprietária de um salão de beleza em Floramar, bairro da zona norte de Belo Horizonte. Manicure desde pequena, ela deixou os estudos aos 18 anos, mas completou o ensino médio. Fez um curso profissionalizante e começou a trabalhar por conta quando era recém-casada. “Meu marido comprou uma cadeira, um espelho e um lavatório e logo fiquei conhecida no bairro”, relembra, emocionada. Tinha apenas 22 anos, e dois anos depois já bancava sozinha o aluguel da primeira loja. O negócio cresceu, ela montou um salão maior e mais arrumado, em uma rua pouco movimentada. O erro quase custou a falência em 2003 e a fez voltar com escovas e tesouras para um cômodo dentro de casa. Hoje, Zaza aluga um imóvel na avenida principal de Floramar e conta com quatro funcionárias. Tocando os negócios por instinto, já aproveitou muito os conteúdos do curso. “Não tinha um cadastro de clientes. Criei uma comanda que sistematiza os serviços prestados e me resolve vários problemas, da coleta de dados à cobrança”, conta Zaza, que bolou um cartão fidelidade e fez cartões de visita usando as próprias clientes como modelo “para mostrar o trabalho real”. As fotos também figuram no letreiro em frente ao salão, que nem placa tinha. “Na aula de marketing caiu a ficha: quem passava pela rua não sabia nem o que funcionava ali.” Além de ampliar o atual espaço, oferecendo uma área exclusiva para noivas, ela planeja abrir outro instituto de beleza em Lagoa Santa, onde mora há cinco anos. “Descobri que a empresa dá lucro e pode crescer, só preciso aprender o planejamento financeiro.”

Por Maggi Krause - Do PEGN