terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Pesquisa coloca em dúvida benefício de tipo de amora contra infecções urinárias


Por Abigail Zuger*
The New York Times

  • Oxicoco, um tipo de amora conhecido nos EUA como cranberry

    Oxicoco, um tipo de amora conhecido nos EUA como "cranberry"

Durante décadas, o suco de oxicoco - um tipo de amora, conhecido nos EUA como "cranberry" - gozou da reputação de prevenir infecções na bexiga. Cientistas tentaram obstinadamente confirmar essa conhecida verdade folclórica, conduzindo inúmeros estudos tanto em tubos de ensaio quanto em seres humanos.

Os últimos resultados chegaram, e a resposta é conclusiva: este campo está atolado.

Alguns estudos mais antigos descobriram que o suco funcionava, outros afirmaram que não. Todos eram pequenos demais para serem definitivos. Em 1998, uma substância que supostamente seria o componente ativo no oxicoco foi identificada e divulgada com alarde; dois anos atrás, outro estudo sugeriu que um extrato de oxicoco contendo essa substância era quase tão forte quanto um antibiótico.

Agora, um amplo estudo sobre o suco de oxicoco, desenvolvido e executado de maneira impecável, sugeriu que o suposto componente ativo não tem qualquer efeito. E, mesmo assim, o estudo mais recente não fechou nenhuma porta. Isso poderia simplesmente significar que o suco funciona, mas por um mecanismo desconhecido.

Como uma pequena amora pode ser tão difícil de analisar?

Para começar, o oxicoco contém mais de 200 substâncias ativas além de vitamina C, ácido cítrico e uma série de outros ácidos. A velha teoria de que esses ácidos esterilizam a urina ao acidificá-la foi refutada: mesmo se uma pessoa beber vários litros de suco de oxicoco de uma só vez, segundo foi provado, a urina não se torna ácida o bastante para desacelerar o crescimento de bactérias.

Porém, pesquisadores mostraram diversas vezes que o suco realmente evita que alguns tipos de bactérias se prendam a células de dentro do trato urinário. Além disso, a urina de ratos e humanos que ingeriram quantidades modestas do suco também evitou a aderência bacteriana.

A substância responsável por esse efeito foi identifica por uma equipe de pesquisadores de New Jersey, em 1998, como proantocianidina, um composto químico parente dos taninos. Ele aparece no suco de oxicoco, mas não em outros sucos. O composto aparentemente impede que pequenos pelos na superfície da bactéria se grudem a receptores, em células do revestimento do trato urinário.

Em 2009, pesquisadores escoceses relataram ter pedido que algumas mulheres, com frequentes infecções urinárias, tomassem uma cápsula diária de extrato de oxinoco. O produto parecia evitar recorrências quase tão bem quanto pílulas de antibióticos, elevando as esperanças de que o oxicoco pudesse ajudar a limitar o uso desses remédios.

Mas enquanto isso, armados com um financiamento do Centro Nacional de Medicina Alternativa e suco de oxicoco da cooperativa agrícola Ocean Spray, pesquisadores de Michigan haviam iniciado, em 2004, o estudo definitivo.

Eles convocaram mulheres jovens e saudáveis que tinham acabado de sarar de uma infecção na bexiga. Estatísticas previam que cerca de um terço delas poderia esperar por outra infecção dentro de seis meses.

Metade das 319 participantes foi designada a beber, diariamente, 500 ml de suco de oxicoco de baixa caloria. A outra metade recebeu uma bebida-placebo fabricada pela Ocean Spray para ter sabor e aparência iguais, mas sem nenhum conteúdo de oxicoco.

Os resultados foram publicados este mês em "Clinical Infectious Diseases". Após seis meses, as mulheres no grupo do placebo tinham 23 novas infecções, diante de 31 no grupo do oxicoco - uma diferença estatisticamente irrelevante. O suco aparentemente não oferecia proteção.

Mas os pesquisadores estranharam a baixíssima taxa geral de recorrência, de 17 por cento, incrivelmente menor que os 30 por cento esperados. "É possível", escreveram eles, "que o placebo contivesse, inadvertidamente, o ingrediente ativo do suco de oxicoco".

Numa entrevista, Betsy Foxman, principal autora do estudo e professora de epidemiologia da Escola de Saúde Pública na Universidade de Michigan, ofereceu algumas ideias para o que poderia estar ocorrendo.

Tanto o suco quanto o placebo continham vitamina C - isso poderia ter evitado a infecção recorrente? O segredo poderia ser os dois copos adicionais de líquidos por dia? Poderia haver alguma relação com o corante usado no placebo (afinal, os antibióticos foram descobertos inicialmente pela indústria de corantes alemã)?

"Tudo isso ainda é um grande ponto de interrogação", disse Foxman. Sua pesquisa sobre o oxicoco continua.