sábado, 23 de outubro de 2010

Caverna com pinturas pré-históricas ganha réplica que viajará pelo mundo




Há 17 mil anos, em uma gruta natural, perto do rio Vézère, localizado ao sul da França, um grupo com cerca de 10 homens, vestidos com roupas de pele de rena e carregando nos braços e no pescoço magníficas pulseiras e colares feitos com conchas marinhas, preparava os utensílios de um estranho ritual. Eles eram um povo pré-histórico europeu chamado Cro-Magnon. Acompanhados por canções hipnotizantes, misturavam pigmentos de terra amarela e vermelha, acendiam lareiras para permitir ver as paredes irregulares da gruta, e faziam pincéis com pelos de animais. O mais velho dos homens, de pé, inicia sua obra. Em poucas horas, desenha na rocha branca cavalos, cervos e touros, com qualidade gráfica cheia detalhes, respeitando cada animal na sua perspectiva.
Ao todo, quase 2 mil figuras foram pintadas nas paredes na caverna que ficou conhecida como gruta de Lascaux. Vários anos depois da descoberta da maravilha pré-histórica, por quatro adolescentes no ano de 1940, o famoso pintor Pablo Picasso visitou o local, ficando quase sem voz ao se deparar com tanta beleza e técnica. “Todas as técnicas de arte gráfica já foram inventadas aqui, há muitos séculos, nós apenas fomos capazes de reproduzi-las”, disse maravilhado com a obra.
A importância artística das pinturas foi a justificativa para a sua classificação, em 1979, com outros lugares pré-históricos do vale do rio Vézère, na lista do patrimônio mundial da Unesco. Na época, Lascaux era uma das únicas e mais antigas grutas pintadas conhecida. Apenas mais tarde, em 1995, foram descobertas outras tão importantes quanto, como a gruta Chauvet, também no sul da França, com desenhos de carvão que foram datados em 32 mil anos.
A beleza das pinturas de Lascaux foi elemento importante também para a sua deterioração. A partir dos anos de 1950, e originados principalmente pelo gás carbônico da respiração dos visitantes (quase um milhão entre 1948 e 1963), estes problemas de conservação das pinturas obrigaram os responsáveis a tomar a decisão de encerrar as visitas de turistas à gruta, em 1963.
Vinte anos mais tarde, uma réplica idêntica da caverna foi inaugurada, chamada Lascaux II. Foram reproduzidas duas das salas mais importantes. A Sala dos Toros, pintada de toros, cervos, um urso e cavalos; e o Divertículo Axial, ornamentado com bovinos, junto de cavalos acompanhados por cervos e cabritos. Em 1970, uma dupla camada de cimento, construída a 200 metros do original, permitiu reproduzir fielmente o espaço. As obras parietais, num total de 320 figuras, foram logo reproduzidas por uma equipe de artistas. Entretanto hoje, após quase trinta anos de abertura e 270 mil visitantes por ano, as pinturas da Lascaux II apresentam necessidade de restauração completa. As pinturas estão sofrendo com o acúmulo de poeira. A sensação térmica da gruta é de frio e para tornar o ambiente mais confortável para as pessoas, há um sistema de ventilação e climatização, que também gera o pó.