quarta-feira, 21 de julho de 2010

A sociedade e os vermes


Rossandro Klinjey
Você já deve ter observado que no ecossistema existe a categoria dos vermes. Os vermes seriam, em alguma medida, os últimos da escala evolutiva. Lamentavelmente algumas pessoas se comportam assim. São seres cuja única função é caluniar, denegrir. Essas pessoas às vezes nos dão raiva, asco, mas se você pensar melhor terá pena, dó, às vezes compaixão. Se você alguma vez tropeçou numa pessoa dessas é exatamente porque ela se encontra no chão e quer companhia na desgraça. Então, se você tropeçou e não caiu, siga em frente, afinal há um inquestionável traço de inveja e, como dizem, o verdadeiro amigo não é o solidário na desgraça, mas o que suporta o seu sucesso. De qualquer forma existe ainda outro lado a ser levado em conta, pois, como diz o jornalista Zuenir Ventura em seu livro Mal Secreto, a inveja, por assim dizer, é o tributo que a mediocridade paga ao mérito. Ou seja, essas pessoas só se preocupam com os grandes.

É uma pena, pois se essas pessoas resolvessem amadurecer emocionalmente, perceberiam o quanto poderiam se tonar pessoas nobres, úteis e valorosas. Um traço comum desses indivíduos é a mediocridade. Sim, são medíocres, me desculpe ser tão duro. E a mediocridade não é imposição da vida, é uma escolha, ou seja, o medíocre o é por opção. Muitas vezes, é bem verdade, essas pessoas sentem-se incapazes de exercer outra função que não seja esta, a de não ter função alguma, de não ter sua ausência sentida. Outra característica que elas possuem é a necessidade de estar em grupo, por não terem coragem de caluniarem sozinhos, pura lei de sintonia. É! Eles sempre estão juntos, sempre reunidos em torno de sua pequenez. Ficam todos sentados num círculo e, como em todo grupo, existe aquele que comanda o espetáculo, orquestrando a melodia da calúnia, da injúria, apontando seu dedo para a vida dos outros como uma batuta de maestro. Ele se esquece, no entanto, que chegará um dia em que seus dez dedos estarão entrecruzados, apontando para seu próprio corpo, e não haverá mais fofoca, gargalhadas, ironias, só um silêncio questionador: o que fizestes de tua vida? Essas pessoas, é claro, gostam de aparecer. Que graça teria de falar dos outros em casa, sem que ninguém percebesse ou soubesse? Por isso eles se reúnem em lugares públicos, pois lá eles verão as pessoas passarem para que possam alimentar sua mesquinhez mental. Falam de tudo e de todos. Falam um pouco de verdade misturada a muita mentira que inventam só para que possam ter assunto entre si. Não pode haver silêncio na mesa deles, por isso a profusão das calunias, afinal se não falarem dos outros vão falar de quê? Da bondade que ainda não possuem? Da dignidade que lhes falta? Da sensatez que desconhecem? Sabe por que estas pessoas precisam angustiadamente falar do outros? Para esquecer a vida infeliz que levam! São pessoas traídas, mal amadas, suportadas pelos outros, desacreditadas de si mesmas. Na verdade trata-se de uma fuga. Estão fugindo de sua infelicidade ao se preocuparem com a vida dos outros. Ao mesmo tempo é uma projeção psicológica, projetam nos outros as deficiências de caráter que na verdade possuem. Outra particularidade bem marcante é que, à semelhança de um ninho de cobra, quando eles não têm de quem falar, eles passam a picar uns aos outros, e só não morem por que o veneno é o mesmo, são imunizados, acredite... Fuja da companhia dessas pessoas, pois tal como afirma o salmista: "Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores" (Salmos1, 1). Note a importância dada a este sábio conselho, afinal trata-se do primeiro versículo do primeiro dos Salmos. Antes de terminar eu quero desfazer uma injustiça. Os vermes da natureza têm sim uma função nobre, em seu trabalho laborioso. Eles aram a terra, oxigenando o solo para que este possa frutificar e trazer vida. Ao contrário das pessoas que, por se comportarem de forma medíocre, se colocam, por livre escolha, numa categoria muito abaixo.