terça-feira, 1 de junho de 2010

Copa do Mundo mexe com o coração dos torcedores: para o bem e para o mal


Kaká comemora com a torcida após vitória de 3 a 0 sobre o Peru em abril; quando o time vence, o coração do torcedor pode ficar protegido

Assistir a jogos importantes, como os da Copa do Mundo, mexe com o coração dos amantes de futebol, como todo torcedor sabe. Vários estudos já mostraram que partidas decisivas podem elevar a ocorrência de ataques cardíacos. Porém, se o time "do coração" vencer, o efeito pode ser exatamente o oposto: a chance de sofrer um problema diminui, como afirma o médico gaúcho Leandro Zimerman, membro do conselho da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac).
A adrenalina aumenta os batimentos do coração e favorece a constrição dos vasos, elevando a pressão arterial. É por isso que fortes emoções, como a do futebol, elevam o risco de arritmia (instabilidade nos batimentos cardíacos) e morte súbita (o coração para de bater devido a algum bloqueio na artéria).
Um trabalho feito por pesquisadores da Universidade Ludwig-Maximilians, em Munique, após a Copa do Mundo de 2006, mostrou que o risco de um ataque cardíaco ou outro problema cardiovascular em homens foi três vezes maior nos dias em que a seleção alemã jogou.
"Os estudos apontam para um caso de morte súbita para cerca de 580 mil espectadores de futebol", diz o médico. Em uma relação direta com o futebol brasileiro, seria mais ou menos o equivalente a uma morte a cada 14 jogos do Campeonato Brasileiro, considerando-se um público médio de 45 mil pessoas.
Mas o cardiologista chama a atenção para outro estudo, feito pelo pesquisador francês Frederic Berthier, em 2003, com a análise de eventos cardíacos na fatídica final de 1998, quando a França ganhou do Brasil. O número de mortes por infarto do miocárdio na população masculina francesa sofreu uma redução significativa, de uma média de 32 registrada até cinco dias antes, para 23, nos cinco dias seguintes à final. Cerca de 40% da população francesa acompanhou o jogo pela TV.
"Todo momento de estresse intenso, mesmo positivo, pode aumentar os riscos de eventos cardíacos. Por outro lado, emoções positivas têm efeito protetor sobre o coração", pondera. Ou seja: a decisão pode até colocar o coração do torcedor em risco, mas, após a vitória, os benefícios superam os malefícios porque química do bem-estar age como protetor cardíaco. O médico ressalta, no entanto, que mais estudos são necessários para corroborar esses resultados.
Estudo no Brasil
A emoção de um gol num jogo decisivo gera tantos problemas cardíacos nos torcedores, que a Sociedade Brasileira de Cardiologia decidiu fazer uma pesquisa sobre a influência de um jogo dramático de futebol sobre a saúde dos espectadores brasileiros, nesta Copa do Mundo. A iniciativa surgiu porque, apesar de relatos, ainda não havia registros confiáveis das causas de eventos cardíacos registrados nesse tipo de ocasião.
Quatro hospitais serão selecionados, entre eles Dante Pazzanese e Hospital do Coração, em São Paulo, e o total de eventos cardíacos do mês de maio e sua gravidade serão correlacionados com crises de arritmias, angina, infartos e derrames durante os jogos na África do Sul.
Recomendações
Para evitar que o coração fique vulnerável em situações de emoção intensa, como a Copa, os conselhos são bem conhecidos: praticar atividade física regular, fazer check-ups com frequência, cuidar da dieta, não abusar da bebida alcoólica e abolir o cigarro. Mas, claro, não adianta começar a se cuidar quinze dias antes dos jogos.
Para os dias "D", a recomendação de Zimernan é evitar o excesso de sal, álcool e cigarro (que aumentam a pressão) e procurar hidratar-se bem. "Também é importante que as pessoas que fazem uso de medicamentos, como anti-hipertensivos, não se esqueçam de tomá-los nos dias de jogo", acrescenta.

Editora do UOL Ciência e Saúde