terça-feira, 4 de maio de 2010

Incidência de psicoses em São Paulo é menor do que esperado

Levantamento inédito feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) mostra que a incidência de psicoses na cidade de São Paulo é de 15,9 novos casos por 100 mil habitantes a cada ano. Os índices são mais baixos do que os registrados em cidades menores, como Bristol, na Inglaterra, que tem cerca de 450 mil habitantes e uma incidência de 25 novos casos a cada 100 mil habitantes.
A pesquisa também revela que os psicóticos tem um pouco menos de massa cinzenta em algumas regiões do cérebro e que os paulistanos buscam ajuda rapidamente — cerca de 50% procuram serviços de saúde em até quatro semanas após aparecerem os sintomas.
Psicoses são transtornos psiquiátricos cujos sintomas são delírios, alucinações e perda da capacidade de pensar com clareza. A incidência média dessas doenças em centros urbanos é de 25 novos casos a cada 100 mil habitantes por ano. Um levantamento feito em Londres, onde vivem cerca de 8 milhões de pessoas, mostrou uma incidência anual de 50 novos casos por 100 mil habitantes. Já a Capital paulista tem cerca de 11 milhões de habitantes.
“A incidência em São Paulo é menor do que a esperada para uma grande metrópole”, explica Paulo Rossi Menezes, professor da FMUSP que, junto com seus colegas Geraldo Busatto e Márcia Scazufca, coordenou a pesquisa. Também participaram acadêmicos do King´s College, de Londres, Inglaterra.
O tempo que os paulistanos demoram para buscar tratamento também é menor do que em países ricos como Canadá e Dinamarca. Lá, 50% dos pacientes demoram em média 4 meses para buscar ajuda.
Para calcular a incidência, a equipe de pesquisadores consultou todas as fichas de atendimento dos serviços de saúde que atendiam problemas psiquiátricos no centro e zonas norte e oeste de São Paulo, entre julho de 2002 e dezembro de 2004. No período, encontraram 307 primeiros casos de psicose. Os pesquisadores fizeram, então, entrevistas padronizadas, conversaram com os familiares e analisaram os registros de atendimento de 200 doentes.
Segundo Menezes, faltam dados para explicar por que a incidência em São Paulo é menor que em países mais ricos. Ele especula que a diferença pode ter relação com características da sociedade brasileira que talvez diminuam o risco de psicoses: por aqui, os jovens moram mais tempo com a família, usam menos maconha e nascem de pais mais novos do que na América do Norte e Europa.
Menos massa cinzenta
Além disso, a equipe comparou imagens de exames de ressonância magnética de 125 doentes com a de pessoas que moravam ao lado desses doentes (seus vizinhos). Elas mostravam que pessoas com psicose tinham em várias regiões do cérebro uma quantidade menor da substância cinzenta, um tecido que contém principalmente neurônios e vasos sanguíneos.
“A diminuição de massa em algumas regiões sugere que lá estão as alterações que causam psicoses”, diz Menezes. Segundo o médico, o estudo mostrou que a diferença de massa cinzenta entre psicóticos e pessoas saudáveis não é tão grande quanto se pensava.
“O estudo teve uma metodologia mais precisa, já que conseguiu avaliar o cérebro de uma grande quantidade de pessoas, muitas das quais não tinham casos graves de psicose”, informa Menezes. “A maioria dos estudos com ressonância é feita com poucos pacientes, em hospitais especializados, que geralmente atendem casos mais graves.”
Adultos jovens
O levantamento também mostrou que em São Paulo, como em outras cidades do mundo, as psicoses acometem principalmente adultos jovens: cerca de 60% das pessoas que desenvolviam psicoses tinham até 35 anos. Os homens adquiriam a doença, em média com 30 anos, mais cedo que as mulheres, cuja média de idade ao ter o primeiro caso era de 35 anos. A maior parte dos novos casos foi de esquizofrenia ou transtorno esquizofreniforme (63,2%). Também foram frequentes transtorno bipolar (23.2% dos novos casos) e depressão psicótica (13,6%).
A incidência de psicoses e o tempo para buscar tratamento pode ser um pouco maior do que o apontado no estudo. Isso por que os pesquisadores não avaliaram regiões extensas e mais carentes de São Paulo, como as Zona Leste e Sul.
Outro motivo é que pode pode haver psicóticos que não procuram os serviços de saúde. “Mas para a incidência ser igual à média mundial, seria necessário que metade dos psicóticos não procurasse ajuda”, diz Menezes. “É pouco provável que isso aconteça, pois essas doenças tem um impacto enorme na vida das pessoas e suas famílias.”
Da Agência USP de Notícias