quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Duas histórias para pensar ao vender seu produto


Já virou folclore a mania de Steve Jobs, fundador da Apple, de elogiar exageradamente seus produtos. “Fenomenal”, “revolucionário”, “mágico”, “deslumbrante” e “inacreditável” são algumas palavras recorrentes em seu vocabulário. Mas exagerar ao falar bem de um produto é uma tática de risco. Quando se trata do iPod, o tocador de música da Apple (mais de 250 milhões de unidades vendidas, popular, com um design revolucionário, interface intuitiva, eleito por diversas publicações como um dos melhores designs/produtos da década), aí os adjetivos encontram um produto à sua altura. Neste caso, a impressão causada no público é “incrível” e “fenomenal”, e vai atestar que a empresa é inovadora, tem consciência disso e sabe bem o que está vendendo.
Por outro lado, quando você repete o mesmo discurso para um produto que não atende plenamente as expectativas do público, o efeito pode não ser tão positivo. Jobs prometeu que o iPad, último lançamento da Apple, ia revolucionar o mercado. “Nossa mais avançada tecnologia, em um aparelho mágico e revolucionário, a um preço inacreditável”, disse ele, na cerimônia de lançamento, no último dia 27. Mesmo que o produto seja belo e tenha uma interface intuitiva, recebeu caudalosas críticas por aspectos técnicos e, principalmente, por sua real utilidade.
Teria sido exagerado o estardalhaço que Jobs vinha fazendo? Muitos dirão que sim.
O excesso de modéstiaNo outro extremo da corda, o Google lançou, no dia 5 de janeiro deste ano, seu primeiro smartphone, o Nexus One. O gigante de buscas ter entrado finalmente para o mundo dos celulares foi um fato muito relevante tanto na área de tecnologia quanto na de negócios. No entanto, a apresentação do celular só não passou em branco por causa de sua relevância para essas áreas; o Google não fez nada para ajudar.
A revista FastCompany conta que os fundadores da empresa, Sergey Brin e Larry Page chegaram atrasados ao evento de lançamento. A iluminação do palco estava ruim.
Os apresentadores estavam com uma dicção péssima, cheia de “hums”, “ehs” e “ahs”, o que os fazia se parecerem com primatas se comparados à eloquência admirável de Jobs. Além disso, nem os próprios apresentadores pareciam animados com o produto. Como gostar de um lançamento desses?
Nem a Apple nem o Google sofreram perdas tão definitivas por causa dessas apresentações, ou da expectativa causada por elas. Mas isso é somente porque os produtos têm qualidade, o que os faz superar a repercussão ruim. Mesmo assim, fica a lição: vender mais do que se tem é arriscar-se; vender menos, é condenar-se.

Escrito por Ricardo F. Santos - Categorias: Marketing