
CRISTAIS SÃO MARCOS Antônio Carlos Molinari, 65 anos, e Paulo Molinari, 62 anos
Empresários apostam no trabalho artesanal para conquistar clientes com produtos de qualidade
As histórias de sucesso costumam ter como protagonistas empresas ancoradas na tecnologia e na inovação. Mas existem empresas que, ao persistir no delicado e mágico trabalho artesanal, ganham cada vez mais espaço no mercado. Algumas continuam produzindo como os antepassados, imigrantes europeus que trouxeram na bagagem ofícios tradicionais; outras conseguiram encontrar o equilíbrio entre tecnologia e habilidade manual para produzir artesanato em série. Todas conquistam novos clientes que RECONHECEM o valor do que é feito à mão.
Renzo Nalon é o último guardião de um ateliê de alta-costura para os pés. À frente da Pellegrini Calçados, fábrica artesanal criada em São Paulo, em 1902, Nalon continua a fazer sapatos do mesmo jeito que o fundador, Vicenzo Pellegrini: começa tirando as medidas dos pés, depois faz a fôrma de madeira e corta os pedaços de couro, que serão montados e costurados um a um.
Ainda faltam as palmilhas, a sola e lá se vão 35 dias de trabalho minucioso. Um par de sapatos sob medida custa entre R$ 600 e R$ 800. A fábrica conta com cinco funcionários e tem capacidade para produzir 60 pares por mês. E quem compra um sapato Pellegrini? “Alemães, americanos, ingleses. Tenho até um cliente em Abu Dabi, nos Emirados Árabes”, diz Nalon.
Nas prateleiras da oficina, caixas de sapato empilhadas revelam o nome de alguns clientes brasileiros — Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Gilberto Kassab.
Perto do forno, a uma temperatura de 1.450 graus centígrados, Antônio Carlos Molinari sopra e movimenta a massa de vidro incandescente que dá forma a um colorido vaso tipo Murano. “Aprendi a técnica ainda criança com Aldo Bonora, o primeiro mestre vidreiro veneziano que veio para o Brasil”, diz Molinari. Ele e o irmão, Paulo, são proprietários da Cristais São Marcos, empresa mineira de Poços de Caldas. Comandam uma equipe de 200 funcionários que produzem, artesanalmente, 14 mil peças por mês, exportadas para 27 países — incluindo a Itália, berço da técnica de Murano.
CHAPÉUS CURY Paulo Cury Zakia, 51 anos
Fundada em 1920, em Campinas, interior de São Paulo, a vida longa da Cury prova que usar chapéu não saiu de moda. A produção é grande: 38 mil unidades por mês, fabricadas com pelo de coelho, lã de ovelha ou palha de buriti. Do total, 30% viajam para os Estados Unidos, México e Bolívia. O resto vai parar nos cinco mil pontos de venda espalhados pelo Brasil, onde um chapéu Cury de pelo de coelho, que leva dez dias para ser produzido, é vendido por entre R$ 180 e R$ 240. “Apesar das máquinas usadas na produção, a mão do homem é insubstituível em várias etapas que dependem da sensibilidade, do tato”, diz Paulo Cury.
LA BUFALINA Davide Auricchio, 40 anos, e Gianni Auricchio, 33 anos
Leite de búfala, coalho, sal e um dia inteiro de trabalho. São esses os ingredientes da mozarela La Bufalina, produzida em Guaratinguetá, interior de São Paulo, exatamente como na Itália, de onde veio a família Auricchio. Na fábrica, dez pessoas mexem, deixam descansar, salgam, cortam e trançam a massa que se transforma, lentamente, em bolotas de queijo branco, macio e molhado. Há dez anos, quando a empresa abriu as portas, a produção era de 50 quilos por dia. Hoje, são produzidos e vendidos, diariamente, 800 quilos de mozarela, a R$ 43 o quilo. Em um mês são 24 toneladas, distribuídas a restaurantes, pizzarias e empórios de todo o Brasil.
E ao consumidor final, que pode comprar nas duas lojas da empresa, na capital paulista.
“O segredo do nosso sucesso é a qualidade, que depende da produção artesanal” diz Gianni Auricchio.
DI GIORGIO Reinaldo Proetti Junior, 53 anos, e Reinaldo Proetti Neto, 26 anos
Nas dependências da Di Giorgio, os ruídos nada lembram a melodia dos violões fabricados pela empresa paulista há 101 anos. Com protetores de ouvido, 90 homens trabalham a madeira que, aos poucos, dá forma aos instrumentos. São duzentos violões por dia, quatro mil por mês — cada um demora entre 27 e 60 dias para ficar pronto. “É artesanato em série”, diz o proprietário, Reinaldo Proetti. Ele e o filho, Reinaldo Proetti Neto, se misturam aos funcionários para controlar a qualidade que justifica, segundo eles, o preço mais alto que o do mercado — um violão Di Giorgio custa entre R$ 350 e R$ 8 mil, dependendo do modelo.