quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Feito à mão


CRISTAIS SÃO MARCOS Antônio Carlos Molinari, 65 anos, e Paulo Molinari, 62 anos

PELLEGRINI CALÇADOS Renzo Nalon, 72 anos


Empresários apostam no trabalho artesanal para conquistar clientes com produtos de qualidade
As histórias de sucesso costumam ter como protagonistas empresas ancoradas na tecnologia e na inovação. Mas existem empresas que, ao persistir no delicado e mágico trabalho artesanal, ganham cada vez mais espaço no mercado. Algumas continuam produzindo como os antepassados, imigrantes europeus que trouxeram na bagagem ofícios tradicionais; outras conseguiram encontrar o equilíbrio entre tecnologia e habilidade manual para produzir artesanato em série. Todas conquistam novos clientes que RECONHECEM o valor do que é feito à mão.

Renzo Nalon é o último guardião de um ateliê de alta-costura para os pés. À frente da Pellegrini Calçados, fábrica artesanal criada em São Paulo, em 1902, Nalon continua a fazer sapatos do mesmo jeito que o fundador, Vicenzo Pellegrini: começa tirando as medidas dos pés, depois faz a fôrma de madeira e corta os pedaços de couro, que serão montados e costurados um a um.

Ainda faltam as palmilhas, a sola e lá se vão 35 dias de trabalho minucioso. Um par de sapatos sob medida custa entre R$ 600 e R$ 800. A fábrica conta com cinco funcionários e tem capacidade para produzir 60 pares por mês. E quem compra um sapato Pellegrini? “Alemães, americanos, ingleses. Tenho até um cliente em Abu Dabi, nos Emirados Árabes”, diz Nalon.

Nas prateleiras da oficina, caixas de sapato empilhadas revelam o nome de alguns clientes brasileiros — Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Gilberto Kassab.

Perto do forno, a uma temperatura de 1.450 graus centígrados, Antônio Carlos Molinari sopra e movimenta a massa de vidro incandescente que dá forma a um colorido vaso tipo Murano. “Aprendi a técnica ainda criança com Aldo Bonora, o primeiro mestre vidreiro veneziano que veio para o Brasil”, diz Molinari. Ele e o irmão, Paulo, são proprietários da Cristais São Marcos, empresa mineira de Poços de Caldas. Comandam uma equipe de 200 funcionários que produzem, artesanalmente, 14 mil peças por mês, exportadas para 27 países — incluindo a Itália, berço da técnica de Murano.
CHAPÉUS CURY Paulo Cury Zakia, 51 anos
Fundada em 1920, em Campinas, interior de São Paulo, a vida longa da Cury prova que usar chapéu não saiu de moda. A produção é grande: 38 mil unidades por mês, fabricadas com pelo de coelho, lã de ovelha ou palha de buriti. Do total, 30% viajam para os Estados Unidos, México e Bolívia. O resto vai parar nos cinco mil pontos de venda espalhados pelo Brasil, onde um chapéu Cury de pelo de coelho, que leva dez dias para ser produzido, é vendido por entre R$ 180 e R$ 240. “Apesar das máquinas usadas na produção, a mão do homem é insubstituível em várias etapas que dependem da sensibilidade, do tato”, diz Paulo Cury.
LA BUFALINA Davide Auricchio, 40 anos, e Gianni Auricchio, 33 anos
Leite de búfala, coalho, sal e um dia inteiro de trabalho. São esses os ingredientes da mozarela La Bufalina, produzida em Guaratinguetá, interior de São Paulo, exatamente como na Itália, de onde veio a família Auricchio. Na fábrica, dez pessoas mexem, deixam descansar, salgam, cortam e trançam a massa que se transforma, lentamente, em bolotas de queijo branco, macio e molhado. Há dez anos, quando a empresa abriu as portas, a produção era de 50 quilos por dia. Hoje, são produzidos e vendidos, diariamente, 800 quilos de mozarela, a R$ 43 o quilo. Em um mês são 24 toneladas, distribuídas a restaurantes, pizzarias e empórios de todo o Brasil.

E ao consumidor final, que pode comprar nas duas lojas da empresa, na capital paulista.

“O segredo do nosso sucesso é a qualidade, que depende da produção artesanal” diz Gianni Auricchio.
DI GIORGIO Reinaldo Proetti Junior, 53 anos, e Reinaldo Proetti Neto, 26 anos
Nas dependências da Di Giorgio, os ruídos nada lembram a melodia dos violões fabricados pela empresa paulista há 101 anos. Com protetores de ouvido, 90 homens trabalham a madeira que, aos poucos, dá forma aos instrumentos. São duzentos violões por dia, quatro mil por mês — cada um demora entre 27 e 60 dias para ficar pronto. “É artesanato em série”, diz o proprietário, Reinaldo Proetti. Ele e o filho, Reinaldo Proetti Neto, se misturam aos funcionários para controlar a qualidade que justifica, segundo eles, o preço mais alto que o do mercado — um violão Di Giorgio custa entre R$ 350 e R$ 8 mil, dependendo do modelo.

Por Elisa Corrêa