quarta-feira, 27 de maio de 2009

Tecendo o futuro

Detentas aprendem a fazer tapetes artesanais na Penitenciária de Santana, em São Paulo


No estado de São Paulo, 400 empresas contratam a mão de obra de 40 mil presidiários. Conheça a microempresa que produz tapetes artesanais em uma oficina montada no maior presídio feminino da América LatinaPor Elisa Corrêa
Detentas aprendem a fazer tapetes artesanais na Penitenciária de Santana, em São PauloTodos os dias, de segunda a sexta, oito detentas deixam suas celas na Penitenciária Feminina de Santana, zona norte de São Paulo, para produzir tapetes artesanais. Vestem um avental azul turquesa e se dirigem para a sala ampla, de pé direito duplo e paredes pintadas de branco, onde funciona a microempresa Tyoco. Elas se posicionam diante dos grandes teares de madeira e começam um trabalho minucioso que vai ser interrompido oito horas mais tarde, quando voltarão às celas.
Há dois anos e meio em Santana, Tiyoko Tomikawa, 55, e a sócia tiveram que reformar o espaço cedido pelo presídio para transformá-lo em um ateliê têxtil. A adaptação das oficinas é uma das exigências feita pela Fundação de Amparo ao Preso (Funap), responsavel pelos contratos entre empresas e presídios paulistas, aos empresários que querem contratar mão de obra carcerária.
Antes de montar a oficina dentro da penitenciária, as sócias abriram uma empresa na zona oeste da cidade. “Pagávamos R$ 3 mil de aluguel, tínhamos cinco funcionários e não conseguimos sobreviver. Foi então que o presídio apareceu como uma solução”, diz Tiyoko. Uma das vantagens para os empresários que tem detentos como funcionários é a isenção dos encargos trabalhistas. Pelo trabalho das presas, Tiyoko paga um salário mínimo e gasta mais 30% do salário para cobrir o seguro de assistência de trabalho de cada uma, a taxa administrativa cobrada pela Funap e os custos pelo uso do espaço e da estrutura da penitenciária.

A empresária Tiyoko Tomikawa, 55, na oficina de tear que funciona dentro da Penitenciária Feminina de Santana, em São Paulo

Para escolher quem vai trabalhar na oficina, Tiyoko pede que o diretor de produção da penitenciária selecione algumas presas para fazer um teste de habilidade no tear. “Elas se dedicam muito ao trabalho, que não é fácil”. É a própria empresária quem capacita as funcionárias e trabalha ao lado delas todos os dias. Em cada peça produzida na oficina, o cliente encontra uma etiqueta que avisa que o produto foi feito pelas mãos de detentas.
Todo mês são fabricados 60 metros quadrado de tapetes artesanais, vendidos a lojas de decoração e a arquitetos e decoradores por um preço que varia entre R$ 80 e R$ 200 o metro. “No ano passado tivemos muita demanda, a gente queria expandir a produção. Mas agora estamos sentindo os efeitos da crise”, afirma a empresária. Para ela, o mais importante é saber que enquanto estão dentro do presídio, trabalhando na empresa, as detentas têm a chance de tecer o próprio futuro. “Já tivemos casos de funcionárias que, quando ganharam a liberdade, compraram um tear para produzir tapetes. Isso me faz pensar que estou cumprindo minha função de ressocialização, que estou ajudando essas moças a enfrentar a vida lá fora”