O médico Drauzio Varella estreia mais uma de suas ótimas séries exibidas no Fantástico, com o tema: Transplante, o dom da vida. Drauzio passou mais de um ano trabalhando no tema. Viajou pelo Brasil e para países como China, Espanha e Estados Unidos para conhecer de perto realidades que podem contribuir para a melhoria do sistema brasileiro. Teve tempo e dinheiro à vontade para apurar o que fosse necessário, um investimento raríssimo na imprensa brasileira. Drauzio acha que nada substitui o trabalho de campo e tinha a convicção de que faltam órgãos para transplante porque as famílias dos mortos não aceitam doar. Durante a apuração das reportagens, aprendeu que estava errado. Em São Paulo, 70% das famílias aceitam fazer a doação. A cada ano, o estado registra 14 mil mortes encefálicas. Isso significa que haveria quase 10 mil doadores potenciais a cada ano. Em 2008, no entanto, o estado que concentra o maior número de transplantes do país realizou apenas 1.317 procedimentos desse tipo. As filas não andam porque a captação de órgãos no Brasil é muito deficiente. A captação é o nome técnico para a série de procedimentos necessários para que a retirada dos órgãos se concretize. O cadáver precisa ser mantido num leito de UTI e receber uma série de cuidados para que os órgãos não entrem em sofrimento. Além disso, o médico que relata o óbito à central de transplantes precisa preencher uma papelada que toma um tempo que ele simplesmente não tem. "Quando o médico tem dez doentes para cuidar e ainda precisa zelar pelo cadáver, ele escolhe os vivos", diz Drauzio Varella.